sábado, 5 de outubro de 2013

A Evolução da Pobreza no Brasil nos anos Recentes

Hoje pela manhã um interessante post do Blog do prof. Roberto Ellery me motivou a olhar o banco de dados do Poverty & Equity Data mais de perto para o caso do Brasil. Esse banco de dados é muito interessante e possui diversas informações relevantes elaboradas pelo Banco Mundial. 

No referido post o prof. Ellery mostrava que apesar do aumento do número absoluto de pobres na África Subsaariana, que ocorre desde o início dos dados disponíveis (1981), a proporção de pobres na população africana vem caindo desde os anos 90, tendo se intensificado na última década.

Isso quer dizer que o número de pobres cresce a um passo mais lento do que a população nesses locais. Na África Setentrional & Oriente Médio o número de pressoas vivendo com menos de 1,25 dólares por dia caiu em termos absolutos. O mesmo ocorreu na América Latina. Durante os anos 90, mesmo o número absoluto de pobres tendo crescido, o número proporcional (o poverty headcount ratio) começou a cair na virada dos anos 80, subiu um pouco no final dos anos 90 devido as crises ocorridas nos vários países da região e nos anos 2000 vem caindo mais firmemente, números absolutos e proporcionais.

Movimento similar a este ocorre também no Brasil, o gráfico abaixo mostra os dados para várias linhas de corte de pobreza adotados pelo Banco Mundial: US$ 1,25; $ 2,00; $ 2,50; $ 4,00 e $ 5,00. No Brasil, ao longo de quase todos os anos 90, o número absoluto e proporcional de pobres se mantém relativamente estável. A exceção está para a queda entre 90/92/93 e 95 de 17% para 11% (linha de US$ 1,25). Esses anos não estão no gráfico devido a omissão de 91 e 94 e também porque eu precisava começar de algum ano. Em particular, após os anos 2000, dois anos são importantes e estão assinalados: 2001 e 2003. Em 2001 a proporção começa a cair antes do número absoluto e em 2003 o número absoluto cai de maneira mais marcada e a queda da pobreza se mantém desde essa data. Segundo dados do Banco Mundial em 2009 são aproximadamente 12 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 dólares por dia.

Graf. 1 - Evolução da Pobreza para o Brasil 1994-2009 segundo diversas linhas de corte do BM
Fonte: Poverty & Equity Banco Mundial.
link: http://povertydata.worldbank.org/poverty/country/BRA
OBS.: O ano de 2000 foi intepolado pois a informação era faltante no banco do Poverty & Equity.

Diversos detalhes estão por trás dessa conta de redução da pobreza. Um deles é o conceito de Purchasing Power Parity (PPP) o qual já falamos em outras ocasiões neste blog. Ao ver os dados tive a impressão de que os ganhos na redução da pobreza poderiam ser ainda maiores expurgando-se o efeito da inflação, ou ainda, o que é mais ou menos ou inverso, não teríamos ganho de redução na pobreza se as linhas de corte fossem corrigidas. Essa impresão é bastante baseada em uma matéria que a Folha de S. Paulo fez sobre o assunto. Além de matéria do Correio Braziliense e outras opiniões e matérias no mesmo sentido em um cenário de fraco crescimento, um mesmo nível para a subida de preços é sentida de maneira mais forte.

Resumindo o ponto, o ganho de renda dos mais pobres precisa ser mais rápido do que a perda de poder aquisitivo devido à inflação. Em uma analogia, a população mais pobre do Brasil precisa subir uma escada rolante ao reverso e para isso precisa aplicar uma força maior nessa subida, pois se ela parar em determinado ponto da escada, vai começar a descer novamente arrastado pela escada. Uma país sem inflação seria como uma escada comum, onde não há perda devido ao "arrasto" da inflação caso a pessoa fique parada.

Como sabemos que o PIB brasileiro não está crescendo em ritmo acelerado, nem a massa salarial, a impressão que fica é que não estamos subindo a escada a passos rápidos a se considerar o arrasto contrário da escada. Porém, na prática, a questão é bem difícil de responder, principalmente por dois motivos: 1) O cálculo do Banco Mundial já está ponderado pela Paridade do Poder de Compra (PPP no inglês), não sei exatamente os detalhes da PPP obtida pelo banco mundial, mas em geral, uma taxa assim tenta manter uma taxa de câmbio que mantêm o poder de dólar fixo, ou seja, considera a diferença da inflação interna e externa dentro do câmbio; 2) Na contramão da PPP, o câmbio nominal valorizou durante quase todo o período, ou seja, pelo menos no mercado cambial, o dólar estava perdendo valor em relação ao Real, mesmo que pouco, ganhar até US$ 1,25 quando essa moeda está perdendo valor frente à moeda nacional não é uma boa ideia para o combate da pobreza.

Sendo assim, minha suspeita inicial é de que o Brasil deveria ter tido muito sucesso no combate a pobreza de US$ 1,25, mas que boa parte dos que sairam desse grupo debaixo deveriam ficar estagnados nos grupos imediatamente superiores e ganhos em outros níveis de corte deveriam ser menores, e eles de fato são maiores para valores de corte menores, como mostra a tabela abaixo:

Tabela 1 - Queda Porcentual e número de pobres que saíram da pobreza de 2003 a 2009
Linha de corte ___| Queda pct___ | No. pessoas (milhões)
______$ 1.25_________|____42%_______| 8.49____________________
______$ 2.00_________|____44%_______| 16.1____________________
_______$ 2.50_________|____40%_______| 19.39___________________ 
_______$ 4.00_________|____31%_______| 24.46____________________
_______$ 5.00_________|____25%_______| 22.91___________________ 
Fonte: Elaborado a partir do Poverty & Equity Banco Mundial.

As maiores quedas porcentuais ocorreram para os grupos abaixo de $ 2,50, mas em número absolutos a queda foi maior entre $ 4,00 e $ 5,00 (sem contar que há um efeito de base). Mais certo é dizer que a queda ocorreu para todos as linhas de corte e de uma maneira mais ou menos equanime entre os grupos. Isso me induz a dizer que a matéria da Folha 'linkada' acima precisaria de maior aprofundamento, pois o que a afirmação de que R$ 7,00 de correção inflacionária tiraria milhões da pobreza, sugere que os ganhos para sair da pobreza seriam bastante marginais, acho que não é o caso.

Em último esforço para entender a situação em um nível um pouco maior de detalhes fiz uma análise do câmbio real (obtido de uma comparação entre o IPCA brasileiro e o CPI norte-americano), a taxa de câmbio nominal e uma taxa PPP obtida do índice Big Mac.

Graf. 2 - Evolução das taxas de câmbio nominal, Real e Big Mac PPP
Fonte: CPI: U.S. Bureau of Labor Statistics
IPCA: IBGE/SNIPC obtido do http://www.ipeadata.gov.br/
Big Mac PPP: http://bigmacindex.org
Câmbio Nominal: anual: BCB - Boletim/BP obtido do http://www.ipeadata.gov.br/

Tanto pelo câmbio real calculado de uma maneira mais rápida e grosseira acima quanto pelo câmbio do Big Mac calculado pelo Mac Donalds®, digo The Economist®, depois de 2006 as duas maneiras de medição da PPP indicam que o câmbio nominal esteve supervalorizado. A sobrevalorização tem um efeito positivo na importação e aumenta o poder de compra em relação aos importados, por outro lado o câmbio PPP deveria ser mais elevado por conta da moeda brasileira se desvalorizar pela inflação mais rapidamente que o dólar. Isso quer dizer, comparar valores em dólares é de certo modo mais seguro dos ganhos do que compará-los em reais (maior ancoragem). Comparando com câmbio real (Big Mac ou Calculado) o ganho de renda dos mais pobres é dificilmente anulado (mesmo se corrigíssemos as linhas de corte pela inflação).

Finalizando, apesar dos ganhos em redução da pobreza, parece claro para muitos economistas hoje que a mão de obra brasileira infelizmente não tem ganhado muito em termos de produtividade, o que se configura em um grande quebra-cabeças aliar valorização do salário mínimo em conjunto com produtividade do trabalho que está estagnada (eu tenho algumas hipóteses, mas isso é tema para outro post). Caso o aumento da produtividade ocorresse, talvez a queda da pobreza pudesse ser ainda maior e ocorreria com maior crescimento econômico. No que diz respeito ao câmbio, vimos que o câmbio nominal esse ano teve forte desvalorização, não sei bem ao certo quais as consequências desse novo patamar cambial, mas não parece que os ganhos de produtividade advirão daí.

domingo, 18 de agosto de 2013

Os Simpsons e a minha Tese

Passou na Fox um episódio da 20ª temporada de Os Simpsons. Nesse episódio os personagens tentam contornar o problema do cadastro escolar de Springfield. Homer e Marge ficam sabendo que a cidade que oferta o melhor ensino público dos Estados Unidos é a cidade de Waverly Hills (qualquer semelhança com a verdadeira Beverly Hills não é mera coincidência). Os Simpsons decidem contornar esse problema de um jeito bem peculiar e coerente com as presepadas da família: Homer procura o mais barato apartamento que seu dinheiro pode alugar em Waverly Hills (um verdadeiro muquifo de um cômodo e sem banheiro), só para ter um endereço no distrito e assim conseguir que Bart e Lisa estudarem lá.

Esse é exatamente o assunto da tese que defendi no último mês de Julho. Em Belo Horizonte, o sistema de cadastro escolar adota um critério de proximidade para a sugestão das matrículas dos alunos. O problema disso é que as melhores escolas de BH se situam nas áreas mais próximas dos bairros de maior renda (os bairros Waverly Hills de BH). Fazendo um paralelo com o episódio do Simpsons mencionado, imagine um pai chamado Romero, que mora no Jardim Canadá, e decide alugar uma pequena kitinete no Santo Agostinho para o filho estudar na EE Pandiá Calógeras, uma das melhores estaduais de BH.

Uma parte engraçada do episódio é que Waverly Hills possui um fiscal para saber se os pais realmente moram lá e não estão tentando burlar o sistema. Por conta disso, Homer tem de realmente morar no apartamento alugado até que receba a visita do fiscal. Veja como o sistema que antes era gratuito se torna caro: a família precisa alugar para ter um ensino melhor (está de certa forma "pagando" pelo ensino) e o sistema público precisa de fato conferir se as pessoas moram em Waverly Hills, um custo privado e um público, dois ônus advindos de lacunas do sistema.

Assista aqui o episódio para ver o que acontece no final. Em Belo Horizonte não sei se alguma família mantém um endereço fantasma para conseguir vaga em uma melhor escola pública, provável que não. O que existe é tentar conseguir endereços de familiares, amigos, e do trabalho. Convenhamos que a solução do Homer é cara demais considerando que no Brasil escolas particulares são mais comuns e algumas mais acessíveis do que escolas particulares nos EUA. Uma possível solução abordada na tese é tentar fazer com que o sistema se aproxime da real preferência dos pais, ao mesmo tempo em que se tenta deixar o sistema público de educação mais homogêneo.

Liberalismo na teoria e na prática: sobre o golpe no centro de Difusão do Comunismo

Neste último sábado (17/08/13) o Jornal Estado de Minas publicou uma reportagem intitulada "Golpe no curso de Comunismo" em que relata liminar do juiz José Carlos do Vale Madeira da 5ª Vara de Justiça Federal. A liminar suspende as atividades do Centro de Difusão do Comunismo (CDC), um curso de extensão da Universidade Federal de Ouro Preto. Lá mesmo no prédio do ICSA - Instituto de Ciências Sociais Aplicadas - onde trabalho, há diversos cartazes de divulgação das atividades do CDC. A liminar suspende as atividades até o final do julgamento da ação popular proposta pelo advogado Leonel Pinto de Carvalho, isso é o que diz o Jornal EM.

Não sei qual será o resultado da ação contra a União nesse quesito, porém, por mais que eu acredite que o comunismo é uma área do conhecimento fora do contexto e que deveria estar legada ao conhecimento ligado à história e aos museus (sem nenhum demérito para as duas áreas, gosto de história e de museus), acho errado essa liminar de suspender o funcionamento dessa atividade de extensão e rogo para que o CDC continue ativo. 

Segundo relata o jornal, o argumento da ação popular é de que o poder público "não pode disponibilizar bens públicos para a difusão de doutrinas político-partidárias por mais relevantes que sejam historicamente". Mas aí cabe uma sutil questão: quanto do comunismo é doutrinamento e posicionamento político e quanto é pertencente ao campo do saber científico?! Por mais ideológico que eu acredite ser o comunismo, acho que não pode se privar a população de conhecê-lo. E quem melhor do que a universidade e os acadêmicos para difundi-lo? Trata-se de um curso de extensão e os interessados em conhecer a ideologia do comunismo, e até um pouco de ciência que tal doutrina possa ter, podem se cadastrar livremente para conhecer essa história, não há compulsoriedade. Não acho que o comunismo esteja ligado necessariamente a qualquer partido, embora haja os partidos intrinsecamente ligados a essa ideologia: PCdoB, PCB, PCO, PSOL, e 'N' outros no Brasil.

Como economista me questiono muito isso: sinceramente não sei o quanto dos ensinamentos de economia em sala de aula são isentos de qualquer ideologia ou doutrina político-partidária. Como economista dito neoclássico tendo a crer que a maior parte do que passo para os alunos é ciência, ou mais proximamente, um simulacro disso. É o mais próximo que os economistas conseguem chegar do referencial científico da hipótese falseável. Porém reconheço que alguns dos axiomas basilares de economia não são puramente ciência, são proposições que até o momento são úteis, são premissas e, por isso mesmo, longe de serem refutáveis. 

Se levarmos o argumento do juiz, ou da ação, ao limite de suas consequências, não poderíamos ensinar grande parte da economia nos cursos, pois por mais que tentemos lidar com isso e apresentar uma visão isenta, não acho que economia é totalmente isso. Outros cursos não poderiam sequer se ministrados e a difusão de saberes estaria limitadíssima. Pensando pelo outro lado, se essa ação vale para o CDC, poderia valer muito bem para um Centro de Difusão da Economia Austríaca, ou um Centro de Difusão do Liberalismo, por exemplo. Sem falar que a autonomia universitária foi de fato ferida como argumentaram professores ligados ao CDC. Um liberal de verdade não pode apoiar o fechamento por decreto jurídico do Centro de Difusão do Comunismo, pois isso é cercear liberdades primárias dos indivíduos escolherem aquilo que querem estudar e conhecer melhor, e cercear a liberdade da universidade ofertar livremente seus cursos. Sobre isso fico com aquela famosa máxima atribuída ao liberal-iluminista francês Voltaire: "Posso não concordar com nenhuma das palavras que tu dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las".

P.S.: Com certeza esse não é o melhor blog de economista da blogosfera, dado que de um economista marginal, mas provavelmente é o melhor blog de economista-desenhista, dado que eu mesmo ilustro alguns dos posts, :-).

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Volta às atividades e uma opinião sobre as passagens de ônibus

Voltando às atividades do blog após longo período de hibernação devido a tese, volto aqui a postar os assuntos que mais me chamam a atenção em economia e demografia. Como alguns que acompanham esta página já sabem, isso nem sempre está diretamente relacionado ao noticiário em pauta na maioria dos jornais, mas sim em assuntos que me despertam interesse. Um dos novos posts que prometo comentar mais em breve é o assunto da minha tese, já dei alguns aperitivos sobre isso aqui no blog, mas agora terei a chance de aprofundar um pouco mais sobre o assunto. Ocorreu tudo bem na defesa, acho que posso dizer que foi um sucesso e agora a próxima etapa é trabalhar na divulgação através de artigos científicos relacionados ao assunto.

Enquanto esse post não fica pronto, coloco aqui um comentário que fiz sobre as tarifas do transporte público, comentário que fiz a pedido do aluno do curso de jornalismo da UFOP, Filipe Monteiro, para o jornal do curso:

"As manifestações populares que ocorreram no último mês de junho chamaram atenção para uma série de problemas estruturais econômicos que assolam o país. 

Atendo-se somente à questão das tarifas para o transporte público (que são preços regulados), pode-se ver três problemas importantes: o primeiro diz respeito ao despreparo no levantamento dos reais custos passageiro por KM, quando solicitada a explicar o patamar dos preços que justificava a base de custos das tarifas, a prefeitura de BH e seus órgãos competentes não conseguiu encontrar a planilha de custos que embasava os preços das passagens, ou seja, esse preço se retroalimentava e lá atrás, em algum momento, alguém fez uma planilha de custos e aquele preço inicialmente (não muito diferente de um “chute”) foi se retroalimentando por meio de uma correção ajustada pela inflação passada em uma reunião coordenada entre prefeitura e empresários da viação metropolitana. Um “chute” inicial de preços não seria problema se o mercado de linhas de ônibus funcionasse por concorrência, mas como ele é (e deve ser) regulado esse valor de base para as tarifas é muito importante. 

O segundo problema é que mesmo que por meio de concessões é possível estimular mais concorrência, a população deveria se ater mais aos mecanismos de controle no loteamento de concessões do que aos preço da passagem em si, a forma como as concessões são feitas e arranjadas entre prefeitura e empresas importa bastante. 

Por último, o terceiro problema, é que em relação aos assuntos econômicos, a população precisa às vezes aprender a refrear os ânimos, nem sempre a solução mais imediata é a melhor. Mesmo que aquele valor da tarifa inicial tenha sido um “chute”, é possível que ele tenha sido algo aproximado e não muito distante do verdadeiro custo passageiro por KM (um chute na trave, digamos), desse modo, ao abaixar os preços hoje, a sociedade só está transferindo o problema para amanhã, pois muitas empresas julgam a rentabilidade que já tinham como um direito adquirido, os contratos existem, e as prefeituras, como compensação, irão transferir subsídios maiores para o setor responsável pelo transporte público, de alguma forma a sociedade continuará pagando por aquele contrato que estava vigente. E o que é pior, pagará de forma indireta, não verá o dinheiro sair do seu bolso, e muitos que nem usam o serviço (vão à pé ou de bicicleta, por exemplo) pagarão pelo subsídio daqueles que usam. 

Isso é um arranjo econômico ruim, e por isso é preciso vigiar melhor as condições em que se dão esses contratos para dessa forma garantir o preço que a sociedade considera justo".

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Sobre os preços das passagens de ônibus

Como assunto está na ordem do dia, fiz um pequeno gráfico reunindo o preço das tarifas de ônibus de BH. Para isso, encontrei um bom apanhado de dados nesse relatório do ministério das cidades para as tarifas, para os anos mais recentes, que não estão no relatório, baseei-me em pesquisas na internet. 

Essa tarifa aí corresponde ao ônibus diametral de Belo Horizonte, o famoso azulão. Tarifas do amarelinho são abaixo e do vermelho (interurbanos) estão bem acima, dependendo do grupo. As linhas azuis são as que cobrem grande área da cidade.

Segue ai o resultado. Se as tarifas fossem corrigidas pelo IPCA, a tarifa de BH deveria custar hoje cerca de 1,50. Bem menos que os atuais 2,80.
FONTE: Inflação IBGE, por meio do http://www.ipeadata.gov.br/ OBS.: para o ano de 1994 a inflação é apenas do período pós plano Real.
Para tarifas: "Relatório Evolução das Tarifas de ônibus urbanos 1994-2003" do Ministério das Cidades (link para documento). Para anos recentes (2004 a 2012) pesquisa na internet.


quarta-feira, 10 de abril de 2013

Algoritmos de casamentos estáveis (sobre o Nobel de economia de 2012)

Caros leitores,

Segue uma matéria interessante do site da FEA/USP sobre a área em que estou trabalhando na minha tese de doutorado. Com previsão pra acabar AGORA!! :-) (espero em breve por convite para defesa).

Eis aqui o link e o texto:

http://www.fea.usp.br/noticias.php?i=1012


Palestra explica teoria do matching


Graduada em matemática em 1967, com décadas de experiência e seis pós-doutorados na bagagem, a professora Marilda Sotomayor foi a responsável pela apresentação "Matching vai à Estocolmo". Organizada pelo departamento de Economia e pelo CAVC, a palestra tinha como objetivo explicar o uso da teoria do matching e seu papel no trabalho de Alvin Roth e Lloyd Shapley, laureados com o prêmio Nobel em 2012.

O evento, que lotou a Sala da Congregação no dia 13 de novembro, se iniciou com uma breve explicação a respeito da teoria dos jogos, da qual o matching é um dos ramos. "Um jogo é um modelo matemático, uma representação abstrata de situações da vida real em que dois ou mais tomadores de decisão, que chamamos de jogadores, interagem de acordo com regras pré-estabelecidas e suas decisões afetam um ao outro.", explicou a professora, "A teoria dos jogos é um ramo da matemática que estuda o comportamento desses tomadores de decisão", completou. Podem ser feitas ainda duas distinções: a dos jogos cooperativos (em que os jogadores podem cooperar e formar as chamadas "coalizões") e não cooperativos (cada jogador joga apenas por si próprio).

"Informalmente, um matching é um pareamento entre os jogadores que não viola as regras do mercado. No mercado de casamentos, por exemplo, um matching é um conjunto de casamentos monogâmicos", disse a professora.

O marco inicial da pesquisa no ramo data de 1962, quando foi publicado, em uma parceria entre o próprio Shapley e o matemático David Gale, falecido em 2008, o artigo "College admissions and the stability of marriage". O artigo formula e resolve o problema da admissão de estudantes às universidades através de uma distribuição estável e satisfatória. A dupla desenvolveu um algoritmo que solucionava esse problema. Em 1975 foi descoberto por Gale que este algoritmo já estava sendo usado desde 1951 nos Estados Unidos para distribuir os médicos pelos hospitais, onde eles tinham de fazer um ano de residência. Este fato foi provado e divulgado oficialmente em 1983 num trabalho de David Gale e Marilda Sotomayor.

As evidências apontam que o trabalho mais relevante da teoria de matching foi, sem dúvida, o livro "Two-sided matching. A study in game-theoretic and analysis", de autoria de Roth e Sotomayor e publicado em 1990. Este livro compila toda a teoria existente até a sua publicação e um de seus maiores feitos foi atrair a atenção dos economistas para a área de matching. "Até então, matching era considerado coisa de matemático e para matemáticos", informa a professora. Segundo o Mathematical Reviews, dentre todas as publicações de Roth, o livro é, de longe, a que mais citações tem. A segunda publicação mais citada de Roth tem um terço das citações do livro. Os autores foram laureados com o Lanchester Prize de 1990 e foram homenageados em 2010 com o congresso "Roth and Sotomayor: Twenty years after", para celebrar os vinte anos da publicação do livro.

Alguns anos após a publicação do livro, enquanto Marilda Sotomayor continuava a liderar a teoria, Alvin Roth passou a liderar as aplicações de matching à Economia: Desenho de Mercados e transplante de órgãos. "Atuou na organização dos mercados de escolha de escolas públicas de primeiro grau em Boston e em Nova York. Modelou o mercado de transplante de rins como um mercado de matching e então, usando um algoritmo devido a Gale, conhecido na literatura como "top-trading cycles" propôs uma reformulação no sistema de alocação de rins para pacientes", disse a professora.

"O prêmio Nobel outorgado a Roth e Shapley representa uma vitória de todos os autores que contribuíram com seus trabalhos para o desenvolvimento dessa teoria", concluiu Marilda.


Para quem quiser aprender sobre o tema, eu escrevi umas modestas palavras em dezembro de 2011 sobre um dos matemáticos envolvidos na confecção do algoritmo inicial.

Outo lugar de consulta pode ser essa video-aula que descobri recentemente sobre o assunto, está bem didática: