segunda-feira, 29 de agosto de 2011

As Mulheres vão acabar..."Oh meu Deus, nããããããão"


A Revista The Economist publicou em seu blog um interessante exercício sobre quanto tempo levaria para a população de diversos países acabar por completo. O exercício é interessante porque vários países que já passaram pela transição demográfica (veja matéria da National Geographic que falou especificamente do caso de transição brasileiro) estão vivendo taxas de reposição menores do que 1. Ou seja, como aponta a nota curta do blog da revista, para Hong Kong, de cada 1000 mulheres, nascem 547 filhas, quase metade das mulheres. É uma taxa de reprodução líquida de apenas 0.547, o que é extremamente baixo.

Mantidas essas taxas, a população tende a diminuir e, caso sejam persistentes, até desaparecer. Falta muito tempo pra isso ocorrer. Em Hong Kong (que tem uma das taxas mais baixas) isso aconteceria lá para daqui a 1500 anos. No caso do Brasil, como temos uma grande população isso só correria daqui a 3 milênios.

Enfim, muito tempo para isso, uma outra hipótese é que as populações diminuam e que saldos migratórios compensem regiões que tem uma taxa de reposição alta para as que possuem baixa. Os próprios países podem adotar algo como um mecanismo de compensação quando começar a faltar um nível ótimo de pessoas. Enfim, o exercício não é motivo para alarme. É mais uma curiosidade.

PS.: O Desenho da cena cada vez mais rara nos dias de hoje é do blog da colega Fê Dupin.

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Nota curta: a Fundação João Pinheiro em parceria com a Universidade Autônoma de Barcelona está organizando Seminário de Pobreza, Desigualdade e Desempenho Educacional. Hoje tivemos mesas interessantes e até fiz uma reportagem curta para radio CBN-BH, foi bem rápida a matéria e fui pego meio que de surpresa. Mas em breve comento mais sobre esse evento.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Demografia na Revista Science

Na semana passada, a conceituada revista Science produziu uma edição especial sobre demografia convidando vários especialistas para falar dos avanços na área e sob uma perspectiva mais ampla de um quadro geral sobre as mudanças nas últimas décadas. Dos anos 60 e 70 pra cá, o mundo evoluiu de uma situação na qual os neomalthusianos dos anos 70 acreditavam que fatalmente ocorreria uma explosão demográfica com consequências negativas, na qual destacavam principalmente a fome, para uma situação em que vários países em desenvolvimento (dentre eles o Brasil) se encontram em estágio já bastante avançado de transição demográfica. Estágio, no qual a mortalidade caiu para patamares mais baixos e a fecundidade teve tempo de acompanhar a queda da mortalidade produzindo agora um crescimento populacional baixo.

Infelizmente, grande parte do material é restrito. Do material free para leitura, destaco o artigo-chave "Doom or Vroom" que apresenta em mais detalhes os argumentos que tentei expor no parágrafo acima. Também são muito interessantes (e de livre acesso) os vídeos com os casos especiais de Machako-África e de Matlab (isso mesmo, não é a linguagem para programar matemática no computador, mas sim uma comunidade em Bangladesh). David Malakoff (video 1) apresenta o primeiro caso que ajuda a mostrar que não necessariamente um aumento populacional provoca prejuízos ambientais e prejuízos no bem-estar. Ele apresenta um caso de uma comunidade Africana na qual tudo parecia predizer um aumento das erosões e prejuízos ambientais na agricultura à medida que a população crescesse, para surpresa dos pesquisadores, isso não ocorreu, aconteceu o contrario!

O segundo (video 2) é apresentado por Joceyln Kaiser e tem como mote a pergunta de se o planejamento familiar ajuda ou não a reduzir o estoque populacional. A questão é importante porque existe um intenso debate pró e contra o planejamento familiar, economistas costumam a afirmar que o desenvolvimento econômico e educacional (veja o artigo de Lant Prichett que foi mencionado) é o principal motor para a redução e controle do número de filhos pelas mulheres (mais propriamente pelos casais), demógrafos afirmam que um controle familiar, acesso a contraceptivos e outras variáveis ambientais que podem ser alteradas pela política populacional, podem sim auxiliar a redução do número de filhos não planejados. Joceyln apresenta um estudo de caso muito interessante em Matlab na qual a distribuição de contraceptivos ajudou bastante na queda das taxas de fecundidade naquela comunidade. Como resultado final, Joceyln ressalta que hoje os fatores motrizes da redução da fecundidade não são mais postos em confronto, mas sim como fatores justapostos. Enfim, não é só educação das mães, mas também não somente um planejamento familiar e distribuição de contraceptivos, vários fatores contribuem em conjunto.

Finalizando, o último recurso que o internauta sem login pode acessar é um podcast de 47 minutos que é uma verdadeira aula de demografia com aspectos atuais e gerais sobre a população mundial. Três demógrafos são entrevistados: David Bloom apresenta os conceitos gerais da Transição demográfica, Mara Hvistendahl fala sobre o envelhecimento populacional e a importância de se mirar ainda a população mais jovem para saber as consequências populacionais. O terceiro entrevistado, Jean-Pierre Bocquet-Appel, relata sua interessante pesquisa sobre a Transição Demográfica do período neolítico. A entrevista do editor da Science, David Grimm, finaliza o podcast contando as diferenças no cérebros de humanos e chipanzés causada pelo envelhecimento indo até a idade da Terra e buracos negros.

Uma coisa que me impressionou é de como o acesso à Science é caro, cada artigo custa 15 dólares para ser acessado na internet. A assinatura para estudantes norte-americanos é de $75, e para estrangeiros de fora da América do Norte o valor salta para impressionantes $160. Curiosamente, nas lojas eletronicas como a Barnes & Noble ou na amazon.com a assinatura impressa de um ano é apenas $19,95 (não consegui ver se a assinatura e esse preço se aplicam para fora dos EUA) Estou tentando ver como comprar essa edição específica da Science.

Para ilustrar esse post fiz quatro pirâmides demográficas com dados do censo (incluindo o de 2010) para a população brasileira.

A Transição Demográfica contada pelas pirâmides-etárias do Brasil, 1980-2010.

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