terça-feira, 29 de junho de 2010

Os Investimentos no Brasil e a Copa I


Aos amigos economistas que não gostam de futebol peço desculpas. Adianto-lhes que ainda vou escrever um pouco mais sobre o assunto por uma ou duas vezes mais ao longo dessa copa do mundo. Os que apreciam economia entenderão que não estou falando de só de futebol, mas sim de economia e estatística aplicadas aos assuntos do dia, e o futebol realmente dá muito pano pra manga.

Pense pelo lado do dinheiro movimentado pelo esporte, estimativas dão conta que o futebol pode movimentar cerca de 1% do PIB mundial (500 Bilhões de dólares), isso é mais do que qualquer outro esporte até onde tenho notícia. Pois bem, vamos guardar essa informação no fundo da cachola.

Desde o mês passado estou querendo fazer uma matéria sobre o atraso da reforma dos estádios brasileiros. Até onde pude conferir poucos estádios brasilieiros começaram as suas reformas para a copa que já é agora em 2014: o Governador Magalhães Pinto (Mineirão de Belo Horizonte) e o Mario Filho (Maracanã).

Coincidência ou não os dois estádios são públicos, isso revela o estado de coisas que tomam conta do Brasil, principalmente no que concerne à investimentos rentáveis que são os estádios em copas do mundo. É um bom caso examinar porque os estádios públicos começaram primeiro nessa corrida de reformas e investimentos. Sobre reformas aqui.

Vejamos o caso do Morumbi em São Paulo, o estádio do time paulistano é uma das maiores estádios privados no Brasil, está a toda hora na TV e nos jornais, pois apresentou quase uma dezena de projetos com propósito de sediar o jogo de abertura, nenhuma delas vingou, jornalistas já dizem inclusive que o Morumbi está fora da copa de 2014. Outro exemplo, Arena da Baixada (Joaquim Américo Gumarães), em Curitiba. O estádio do Atlético-PR é um dos mais bonitos do país, pertence ao clube. A arena está com problemas para levantar o capital privado para viabilizar seu projeto. Algo semelhante ocorre com o estádio Olímpico do Grêmio de Porto Alegre.

Enfim, é uma endemia a situação dos estádios privados brasileiros. Olhe agora para os estádios da África do Sul com sua TV de High Definition (já que essa é a primeira copa com essa transmissão)* e depois veja a penúria de nossos estádios, principalmente os públicos. Olhe para o Mané Garrincha de Brasília (que nem pode ser chamado ainda de Estádio, parece mais um campão), veja o estado do Mineirão, Maracanã, Castelão etc... Existe uma enorme distância para que o país do futebol mas não do investimento chegue lá.

"Ah, mas olha aí, a solução é o investimento público, veja os estádios públicos estão na frente na corrida das reformas!". Não poderia haver argumento mais enganoso, a reforma do Maraca não começou pra valer, chamaram uns gatos pingados, meia dúzia de jornalistas para tirar fotos e ficou por isso mesmo. No Mineirão não está muito diferente. "O que acontece Mr. economista?"

- O que ocorre é que desde o descobrimento o Brasil é um país que não sabe investir, a iniciativa privada é apática. No lado do governo e pela ótica das regulamentações não temos um mínimo de talento para organizar o background fundamental para propiciar que os investimentos particulares floresçam. Por esse estado de coisas a iniciativa privada do país é extremamente acanhada e conformada, ela é o second mover, pois já está acostumada ao Estado entrar na jogada com grana alta. Ela é como o filho de papai que quer ganhar o carro mas não põe seu próprio dinheiro no investimento: "pra quê vou pagar o carro todo se eu ajudar com apenas 30% fico com a propriedade do negócio?" O estado, ao ser o first mover, acostuma mal demais a nossa sociedade e acaba gerando comportamentos racionais por parte da iniciativa privada. Esse é um argumento bem conhecido dos antigos economistas: o famoso "crowding out".

Estudemos mais afundo, tá certo que o Brasileiro ama futebol, que a copa traz investimentos positivos turistas e etc e tal. Porém, sou totalmente contra colocar dinheiro público nos estádios. Primeiro, eu não gosto de futebol tanto assim, vou pouco às arenas. Segundo, existem outros esportes. Terceiro, e mais importante, o Brasil precisa de enormes investimentos em outras áreas, olhai as casas do Alagoas que literalmente está agora alagado. Um estádio não é particularmente um investimento que chega às pessoas mais pobres (isso pudemos observar no amistoso Brasil e Zimbabue e um pouco nessa copa da África do Sul). Eu aplaudiria um governo que para a copa vindoura não deslocasse nenhum centavo do dinheiro público para estádios.

O Estado deve sim investir na Infraestrutura, estradas, metrôs, saneamento, aeroportos, trens. São investimentos duradouros com impactos para a Copa mas com alcances que vão mais além. Alguns desses investimentos até cabem ao lado privado dado que são também rentáveis. Esse é o papel de uma administração pública pautada no uso eficiente de recursos voltada ao interesse social. Conheço gente que enquanto rola a copa não está assistindo e sim trabalhando, mora longe do trabalho e tem de usar o parco sistema público de transporte das capitais. Esse é o brasileiro que necessita ser respeitado no gasto do dinheiro público.

Sobre o investimento privado, vamos entender melhor: "nós não estabelecemos garantias". Pois bem, peguemos o caso do Morumbi, olha só que coisa maluca: ninguém sabe ao certo qual cidade vai sediar a abertura da copa do Mundo. Isso não deveria estar estipulado desde o projeto? Esse impasse, essa indecisão imobilizam o capital. Nós vamos assistir uma peça muito parecida com essa que ocorreu na África do Sul: correria para terminar as reformas no tempo, prazos estourados, escassez de mão de obra qualificada, orçamentos superfaturados e por fim congestionamentos para chegar neles. Desistência de turistas, roubos e etc...

Enfim, quadro que todos nós brasileiros muito bem conhecemos, com um retoque ainda mais trágico, nossos estádios nem serão tão bonitos quanto os da África do Sul (que são grandes elefantes brancos diga se de passagem, nada mais apropriado, eles estão na África).

Link para continuação: Os Investimentos no Brasil e a Copa II

* Eu ainda não tenho HDTV, nem ligo muito pois não assisto tanta TV assim.

Greves e Suicídios na China

As tão famosas sweetshops da China começam a cobrar o seu preço. Sweetshop é o termo empregado para produtos fabricados por mão de obra barata em países que possuem abundância na oferta de trabalho de menor qualificação. São tênis, camisetas, componentes eletrônicos, brinquedos, até carros. Uma série de produtos que levam a marca de grande multinacionais, mas que porém são produzidos por fábricas terceirizadas.

Alguns argumentam a existência dessa exploração da mão de obra como um argumento contra ao livre comércio. Algo que diz mais ou menos o seguinte: "Ok, estou pagando barato pelos produtos que compro, mas as custas de um pequeno Chinês que está sendo explorado".

Causa muita pena mesmo saber que crianças trabalham em condições desumanas na China e aqui mesmo em nosso país. Mas não é o comércio que insere desrespeitos aos direitos humanos. É errôneo colocar a produção de serviços e bens que nos são úteis contra o estado de direitos de alguns países.

Você pode se sentir culpado comprando algo que foi feito nessas condições, mas o quadro seria pior se não houvesse essas oportunidades de trabalho nos países menos avançados, os direitos humanos continuariam a não ser respeitados do mesmo modo. Com a diferença que grande parte da mão de obra não estaria empregada, ou estaria empregada em setores que agregam menos valor, mas ainda sim oferecem jornada de trabalho semelhante.

O que podemos fazer é pressionar a opinião pública daquele país e esperar que os cidadãos de lá se movam por si mesmos, não podemos fazer muito daqui de fora. Há muito tempo os economistas batem na tecla que a produção em países subdesenvolvidos manufaturadores é positiva e o salário passará a ser cada vez mais valorizado o que é bom para todos. Com consciência cidadã e estabelecimento de direitos o número de horas trabalhadas e as pessoas nesses países teriam cada vez mais horas de lazer e condições mais adequadas de trabalho. Há tempos dizemos isso, mas as transformações são lentas e parecem não conformar alguns. Isso porque muitos desses países são coordenados por regimes autoritários.

Pois bem, surgem os primeiros sinais de mudança. Semana passada foi notícia no mundo inteiro a greve de trabalhadores da Honda em Foshan na China. Não se tem muitas notícias de greve na China, isso se deve a vários motivos. Um motivo importante é a repressão semi-secular contra manifestações públicas. Isso leva a outra forma de protesto muito peculiar e triste: o suicídio coletivo. Chamou atenção a ação de protesto-suicídio de 10 funcionários da foxconn (subsidiária da Apple). É uma solução em um país onde é proibida a formação de sindicatos.

E um primeiro sinal para a mudança. A predição dos modelos de teoria econômica (que podem ser refinados ao gosto do freguês) nos diz que o desenvolvimento acarretará maior remuneração do fator trabalho, ou seja, maior renda percapita, melhor nível de consumo e melhores condições de trabalho. Poderiamos abrir para questões de participações democráticas e respeito as liberdades individuais e direitos humanos, isso porém é extrapolar um pouco do que podem nos dizer os modelos. Mas também há como afirmar que com esse desenvolvimento advém um crescimento econômico menos acelerado, uma valorização maior da moeda, menores taxas de juros (nessa relação de longo prazo juros e câmbio caminham juntos) e maiores importações (O saldo BP pode ser mantido equilibrado, porém sua conta é bem maior e representativa do PIB, embora isso dependa muito do tamanho do Mercado Interno também). Enfim, essas mudanças são lentas e não ocorrem sem reformas institucionais, mas quem tem que exigí-las é a própria população.

Errata:

Blog também tem errata:

Quem pretende defender dissertação de mestrado com a teoria de 9 jogadores ao invés de 11 é o Sócrates, outro grande jogador da seleção, porém de 1982 e 1986. O Sócrates e não o mineiro Tostão da seleção de 1970 como eu havia escrito. Inclusive a entrevista do Sócrates que menciono foi na espn, um pouco antes do jogo de abertura (um dia ou dois antes).

O texto abaixo já está corrigido mas fica aqui o registro da correção.

sábado, 26 de junho de 2010

Efeito Jabulani


A bola da atual copa do mundo desde o começo das disputas tem dado o que falar. A pergunta que não quer calar é: "Qual efeito uma bola pode ter nos resultados dos jogos?" Ao que me parece, a Jabulani é uma bola tecnológica. Dentro das especificações mínimas de peso, ela foi feita para ser mais leve e mais "viva" e com isso dar mais agilidade aos jogos e balançar mais vezes as redes. Parece que realmente ela tem dado trabalho aos goleiros, feitos uns e outros frangueiros passarem por alguns vexames.

Até o momento em que estamos, no primeiro jogo das oitavas de finais (Uruguai ganhou de 2x1 da Coréia do Norte), essa copa da África do Sul está conseguindo superar a copa de 1990 em baixa média de gols. A copa da Itália é conhecida como a copa que teve a menor média histórica de gols por partida, apenas 2,21. Entre os analistas de futebol, o que mais ajuda explicar a baixa média de gols da copa de 90 foi uma mudança tática do esporte, os times passaram a valorizar atletas com muito preparo que corriam o campo todo e se defendiam bem, o gol era o detalhe do contra-ataque. A copa de 1990 foi um evento pontual, a média de gols em copas do mundo vêm caindo com mais força desde 1958, que foi o ano do primeiro título do Brasil.

Nessa copa há a questão da nova bola. Nos jogos estão comuns os erros de passes e chutes errados pra fora do gol, chutes que parecem ser devidos a uma falta de adequação entre a prática dos jogadores e as características da nova bola. Aparentemente mais ágil, ela requer mais técnica e menos força. Foram vistos muitos escanteios em que a bola cruzou toda a grande área.

Sem dúvida há um pequeno efeito Jabulani (mínimo mesmo), mas como poderiamos medi-lo com precisão? Essa é uma questão importante e recorrente nas ciências sociais. Não existe contrafactual, ou o contrafactual não faz muito sentido. Imagine que para testar a nova bola alguns jogos fossem realizados com a Jabulani e outros realizados com a Teamgeist (bola da copa anterior). Ao final da copa comparariamos a média de gols por partidas obtidos com cada uma das bolas e veriamos se essa diferença é estatisticamente significativa.

Eu acredito que muito provavelmente não haveria diferença nenhuma, mas o fato é que a mesma bola é usada indistintamente em todas as partidas, então não há como fazer essa comparação. Só dá pra fazê-la daqui em diante, comparar essa copa com as copas seguintes. Se uma bola parecida com a Jabulani for usada na copa do Brasil em 2014, como será a média de gols? Maior, menor ou igual a atual? E se comparássemos a Jabulani com aquelas antigas bolas de couro dos anos 50, será que ainda assim não teriamos diferença?

O ex-jogador Sócrates quer defender um mestrado com uma tese um tanto excêntrica: ele quer mudar o número de jogadores de 11 para 9 (8 além do goleiro). Na verdade, o economista Mario Henrique Simonsen já tinha sugerido uma brincadeira como essa durante a copa de 1990. Sócrates pretende medir algumas características do jogo com e sem essa intervenção, um dia eu assisti entrevista em que ele fala que precisaria de dinheiro e mais ou menos uns trezentos jogos com jogadores profissionais para ver se a medida realmente resultaria naquilo que gostamos de ver: mais dribles, mais movimentação e mais gols. Essa é uma medida mais dramática do que a simples mudança de bola, provavelmente os impactos para o esporte serão tremendos, resta saber se favoráveis.


Mesmo no exemplo mencionado de jogos com Jabulani e jogos com outra bola, a comparação não seria nada fácil. Um jogo Brasil e Portugal não tem as mesmas características de Portugal e Coréia do Norte. Como comparar jogos entre seleções diferentes? As características influentes no resultado de uma partida são tantas que a comparação seria um tanto impossível mesmo se tivessemos Portugal e Brasil (com Jabulani) e Portugal e Brasil (sem Jabulani). Há inumeras variáveis não observáveis. Digamos que a primeira partida fosse o micho 0x0 que ocorreu de fato e a segunda fosse 3x3. Ainda não seria possível creditar o efeito de 6 gols à outra bola. Podem ser circuntânicas outras: time reserva, esquema tático, sorte, gramado, chuva... E se pudessemos fazer vários jogos, 30 por exemplo?

Aí, talvez...

Para as características do futebol teriamos de observar muito mais jogos. É caro e despropositado ver seleções como Portugal e Brasil se enfrentarem 300 vezes apenas pra ver se a tal da bola tem efeito ou não. Elas jogariam por jogar, para fazer número, extremamente diferente dos interesses postos em uma copa. No caso, a Adidas e a FIFA poderiam fazer isso com dois times genéricos pagos para fazer partidas-teste, sem substituições. Depois ampliar o teste para mais times. Mesmo para a empresa e para a FIFA, principais interessadas, isso seria muito caro. Mais caro ainda (menor relação benefício/custo) se o efeito fosse pequeno.

Na natação fez sucesso o novo maiô LZR da speedo, tanto que a suspeita de que ele poderia ter efeito no tempo dos atletas levou a FINA (Federação Internacional de Natação) a suspender o maiô em algumas competições, nem todos os atletas o tinham e dispunham de recursos para comprar. Mesmo aí, levantou-se questionamentos sobre os verdadeiros efeitos do maiô, os testes realizados poderiam não ser suficientes. Paira ainda a dúvida. Mas esse é mais um interessante exemplo de como os recursos tecnológicos podem fazer a diferença no esporte.

Para finalizar a polêmica da bola: ao que me parece, a diferença que pode ser creditada a ela é mínima. Mesmo que a média mais baixa de gols por jogos dessa copa se confirme, isso não é efeito da bola ou da pouca adaptação de alguns jogadores à ela, mas sim uma flutuação em torno da média de 2,5 gols por partida que é o normal das últimas três décadas.

E aí?! Será que vale a pena adotar a sugestão nada ortodoxa do Sócrates?

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Mini-Curso de Marco Lógico da II Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação

Semana passada realizou-se em Fortaleza, CE no centro de Treinamento do Banco do Nordeste, o II Seminário da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação. O seminário contou com apoio de várias instituições e com a participação de novos palestrantes que avaliaram as experiências de monitoramento em avaliação em várias instituições, públicas federais, estaduais e privadas. É importante que a cultura da avaliação e monitoramento esteja tomando corpo no Brasil e a nossa rede de M&A venha se fortalecendo cada vez mais.

Neste seminário, fui convidado pelo João Pedro Azevedo do Banco Mundial para ministrar um pequeno curso de marco-lógico. Apesar de não ser muito grande esse curso foi um desafio, o Marco-Logico de programas tem sido relegado a segundo plano dentro de diversas políticas existentes. Em parte isso se deve a pouca divulgação e conceituação do que vem a ser marco lógico. Há vasta literatura sobre marco-lógico e desenho porém grande parte dos textos concentra seu enfoque na área de pesquisas e avaliações, pouco há sobre a aplicação real disso nos programas.

Para construção do curso tive de adaptar o marco-logico que encontramos geralmente direcionados à pesquisa e fazê-los de uso prático na elaboração de programas. Foram de fundamental ajuda o livro "Real World Evaluation" do Bamberguer, Rugh e Mabry, o livro da Joy Frechtling , do James Davis e o já famoso handbook da Judy Baker. (as referências estão na aula 04). Ainda assim, se minha interpretação de algum ponto estiver equivocada ou para qualquer dúvida, esclarecimento e sugestões, todos serão muito bem vindos.

Felizmente no momento atual tem se percebido o quão importante é esse tópico para a confecção de programas que atuem bem e corretamente, além da importância de um marco lógico bem estruturado para a própria avaliação se os programas estão funcionando de acordo com os objetivos inicialmente previstos. O centro de Redução da Pobreza e Gerenciamento Econômico do Banco Mundial está lançando uma nova série de publicações "Nuts and Bolts" sobre o que está por dentro da implementação dos programas, envolvento M&A e sesign e Marco-Lógico.

Nesse mini-curso pude contar com essencial ajuda da Lycia Lima e do Pedro Olinto, ambos do Banco Mundial. Abaixo seguem a pequena ementa do curso e os quatro power-points.

Descrição: Esse mini-curso objetiva a conceituar Marco Lógico (ML) como uma ferramenta necessária para uma boa avaliação de programas. Para isso será observado como o ML está inserido no planejamento estratégico de longo prazo e quais são as cinco precondições para existência de um programa, assim como os obstáculos e restrições impostas à avaliação. Uso de definições claras e demarcadas para os objetivos e métodos do programa, avaliação da literatura pertinente e do ambiente institucional. Etapas de Desenho, montagem e elaboração do ML para um programa social. O Framework recursivo: como avaliações anteriores, o monitoramento e o feedback dos agentes, podem ajudar na recuperação do ML. Aplicações práticas dos modelos de ML.









Thats All, Folks, Thanks!

sábado, 12 de junho de 2010

Divisão Salomônica dos Royalities


Na última quinta feira do dia 10 de Junho causou polêmica a votação dos direitos de repartição dos Royalties do Petróleo para todos os estados brasileiros (veja uma reportagem bem humorada aqui: CBN - A rádio que toca notícia - A Charge do Jornal). Há dois argumentos que podemos explorar rapidamente neste texto.

Uma justificativa econômica que se pode pensar para os royalties do petróleo é compensar a população das externalidades negativas relacionadas à atividade produtora de petróleo. Externalidades são ações de mercado que afetam a vida de pessoas que não estão envolvidas com a produção e comércio em questão. No caso do petróleo em alto mar, a principal externalidade que se pode enunciar é o risco de poluição ambiental o que prejudica a toda a população que deve ser compensada pelos riscos (o caso da British Petroleum nos mostra que isso é bem real). Além disso, em terra há uma série de outros riscos e poluição envolvidos no transporte e refino que justificariam pagar os royalties para as populações mais próximas.

Pensando pelo lado dos direitos de propriedade da forma estabelecida no Brasil, a riqueza encontrada no subsolo é propriedade da união. Dessa maneira, as empresas de exploração de riquezas naturais devem comprar um lote com direitos ou obter concessão para exploração. A melhor forma de se fazer isso (aquela que arrecada mais para toda população) é por meio de leilão dos poços em grupos. Por esse lado, alguns economistas defendem que os royalties devem ser repartidos para todos os estados, pois o direito de propriedade da união justifica o pagamento igual para todos os brasileiros.

Esse raciocínio só seria correto se o Brasil fosse um país pequeno, digamos, do tamanho do Rio de Janeiro ou do Espírito Santo. Mas o Brasil é um país de dimensões continentais e por isso mesmo somos uma Federação organizada em estados. As influências em termos de externalidades que sofrem os estados do litoral extratores de petróleo em alto mar, não são as mesmas que sofrem, por exemplo, o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul com grandes monoculturas ou criação extensiva que, quando não tratadas tecnicamente, desmatam e causam erosão ou secam o Pantanal, trazendo prejuízos ecológicos. Os Estados entre outros motivos devem servir para repartir adequadamente os direitos de propriedade que não devem ser tratados como iguais para realidades econômicas diferentes.

Essa história dos royalties repartidos igualmente me lembra uma história bíblica da qual gosto muito: No tempo do rei Salomão em Israel, conta-se que duas mães brigavam pela maternidade de uma pequena criança, as duas alegavam ser a verdadeira mãe, sem haver consenso e com muitas brigas. Estava dado um impasse que foi levado ao rei Salomão resolver. O rei ouviu as duas mulherem querelarem e acusarem uma a outra. Ele viu que seria impossível através dos relatos descobrir a verdadeira mãe, decidiu então dividir o menino ao meio e dar uma metade a cada mulher. Empunhou a espada e se preparou para o golpe.

Ao saber daquela resolução, uma das mulheres se põe aos pés do rei e lhe diz que a criança poderia ficar com a outra, que preferia não ter uma criança viva do que ter uma repartida ao meio. Diante da reação desta mulher que implorou pela vida do filho e abriu mão da guarda para garantir-lhe a vida e diante da impassividade da outra mulher, Salomão teve certeza da mãe verdadeira.

Igual a história da decisão do Rei Salomão, a divisão igualitária dos Royalties é a pior decisão. Todos os deputados e senadores julgam seus estados como mãe desta criança, porém isso não é lá muito verdade, pois é muito difícil que as externalidades que atingem o Rio com a exploração do petróleo atinjam o Piauí da mesma forma.

Colocando um curto e direto exemplo técnico para a questão:

Suponha que as populações de todos os estados desejem um projeto de melhoria e construção de estradas públicas que custe 9 milhões de reais para todos eles. E que o montante pago em Royalties seja de 27 milhões, com esse dinheiro é possível completar 3 desses projetos igualmente. Suponha que esses Royalties sejam repartidos igualmente entre três principais dos estados produtores: Rio de Janeiro, Espirito santo e Bahia (podia ser SP também, mas fica Bahia):

27/3 = 9. E cada um dos três estados consegue realizar seu projeto.

Se os Royalties são divididos entre os 26 Estados mais o Distrito Federal:

27/27 = 1. Um milhão para todos os estados. Se essa quantia for a mesma anualmente e aplicando um rendimento real de 5% (supondo que o projeto não encarece mais do que a inflação) teriamos que cada um dos estados levaria mais de 8 anos para executar o projeto cada um!

Alguns perguntarão: "Mas não é injusto deixar apenas 3 estados completarem um projeto que todos igualmente desejam e merecem?"

Bem, em termos. Não é correto repartir de acordo com as demandas, pois as demandas como sabemos são diversas e infinitas. A repartição na produção é a melhor maneira. Para os estados que na atual configuração recebem muito pouco para atender suas demandas há que se recomendar um maior gerenciamento e busca de outras receitas e de estabelecer direitos de propriedades que são importantes também em outros campos, pense nos estados de mata amazônica, no que eles tem a ganhar definindo e explorando com responsabilidade os recursos. Pelos valiosos recursos de biodiversidade eles também merecem Royalties, mas advindos de outra produção, não da produção que está lá em baixo no Rio de Janeiro. Sem gerar recursos não há como se criar dinheiro do nada. Mais ainda, ter de buscar outros recursos ou esperar uma década para realizar um projeto que necessita começar agora é quase a mesma coisa. É irrealista esperar que todos estados necessitem desse mesmo investimento.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Abaixo os Made In ..."Alhures"


Recentemente estive pensando que ganhos trazem ao consumidor saber que um produto foi fabricado na China, na Alemanha, no Brasil, nos USA etc...

Fiquei pensando e realmente constatei que não há realmente nenhum ganho a não ser o de uma informação que na verdade não acrescenta muito. Hoje em dia não dá pra especificar um componente ou produto que seja inteiramente fabricado em um país. Seu computador laptop pode ter um processador holandês, circuitos desenhados nos EUA, telas de cristal líquido fabricadas no Japão, condutores feitos no Brasil e ter sido montado na China. Aparece lá a lapela de "made in China", mas na verdade aquilo foi fabricado em diversos lugares. O mesmo acontece com carros, celulares, aviões, dentro de um simples livro, até mesmo dentro de um cereal matinal.

Para o consumidor, o que interessa saber é a empresa que o fabricou, para que assim, em caso de reclamação, ele possa procurar a representação mais próxima e reivindicar os seus direitos. Se foi feito na China ou na Zona Franca de Manaus pouco importa.

No entanto, apesar de não acrescentar muita informação relevante, os made in's da vida geram muita animosidade. Pois muitos realmente se revoltam ao saber de uma "invasão" de produtos derivados de algum lugar. A divulgação dos 'made ins' é na verdade uma forma de propaganda subincutida feita pelos países exportadores, feita para mostrar: "olha como somos bons, você está comprando um produto feito na Grã Bretanha!" Enfim, a prática dos 'made ins' me remonta a uma coisa imperialista, mesmo. Uma propaganda de poder, mercantilista na pior acepção do termo, daqueles tempos atrasados do séc XVI até XIX que aos Estados-nações só lhes interessavam exportar e nada importar.

No entando, o que os 'made ins' geram é uma guerra ferrenha de alguns contra a produtividade, eficiência, bom senso e contra as lógicas econômicas de comércio, divisão do trabalho e vantagens comparativas. Isso é maior do que o simples benefício de saber a procedência. Há também alguns efeitos práticos importantes para alfândegas, tributadores, portos e importadores, mas estes efeitos podem ser contornados de outras maneiras e há uma propaganda para os que gostam de saber que algo é feito em outro lugar (muitos gostam do Brazilian nut, por exemplo), contudo, é possível que esses efeitos positivos sejam pequenos para se continuar ostentando o MADE IN, considerando-se que as medidas protecionistas da população ocorrem muito por conta disso (a divulgação da procedência).

Há muitos problemas a serem sanados no comércio internacional ao invés de simplesmente se retirar os simples selos de fabricação. Soma-se à isso o fato de que se legisladores e a população em geral fossem mais instruídos sobre economia, a presença de tal coisa não afetaria em nada o comércio. No entanto, creio que é uma boa medida educativa (um pequeno início) para começarmos a implementar as boas medidas que precisam ser mudadas nesse campo.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Lições Básicas de Economia

Um pouco de lições básicas de economia para a população em geral seria bom para evitarmos de ouvir argumentos indignados como o desta senhora que apararece no Jornal da Record e evoca até o nacionalismo para dizer que os estacionamentos abusam nos preços cobrados.

O Jornal está com uma interessante matéria para essa semana discorrendo sobre a falta de vagas em São Paulo, o que é similar para várias grandes cidades brasileiras. Um problema recente em São Paulo, que foi o principal tema da matéria de hoje (08/06/10), trata da redução do número de vagas permitidas nos acostamentos nas ruas. Essa medida visa facilitar o fluxo de veículos, já que em várias ruas secundárias o número de veículos estacionados no acostamento estreita bastante a passagem.

Essa medida no entanto taz uma série de incovenientes: as pessoas passaram a parar mais longe em áreas residenciais incomodando moradores, comerciantes perderam clientes que estacionavam em ruas e, principal ponto, o valor das diárias e da hora em estacionamentos privados se elevou mais de 3 vezes.

Essas medidas trazem muita indignação claro, pois alteram direitos estabelecidos e ocorre o que os economistas chamam de reestabelecimento das dotações. Ainda assim não se pode reclamar da oferta e da procura, evocar princípios morais para os preços (tal coisa não existe). Até porque a situação do volume de carros uma hora se tornará insuportável, o que significa que as pessoas terão de deixar, cada vez mais, seus carros nas garagens de casa (o que tem começado a se escassear também, dado o número de pessoas que possui mais de um veículo).

Segundo dados da reportagem o número da frota circulante de São Paulo é de pouco mais de 5 milhões de veículos. Segundo o sindicato de estacionamentos, o número de vagas disponíveis é um pouco maior que um milhão. Se a demanda é maior do que a oferta os preços sobem. Esses preços mais altos para se estacionar o carro sinalizam que os carros em excesso prejudicam o trânsito, quem quiser usar ainda o carro nos horários de rush e estacionar nas regiões centrais vai ter de se dar o luxo de pagar mais por isso, ou então (o que dá no mesmo, mas de forma não monetária) fazer como alguns entrevistados que chegam no centro às 4:30 da manhã para garantir uma vaga na rua (pegar um lugar na fila cedo tem um preço!).

Se for adotado o que alguns consumidores indignados querem, qual seja, um teto para o preço dos estacionamentos, o tiro vai acabar saindo pela culatra pois a oferta de vagas não irá crescer e as pessoas continuarão a usar muito os carros continuando a congestionar as vias, será mais barato, mas irá continuar faltando vagas do mesmo jeito, no futuro faltarão mais vagas ainda. Do contrário, com a solução de mercado, é possível que pelo menos por uma vez você possa ir de carro ao centro em um dia em que considere que isso lhe irá ajudar muito. Nas outras ocasiões é melhor usar o ônibus, metrô, bicicleta ou se mudar para perto. Para isso teriam de se melhorar as condições de transporte público e de moradia, mas isso já são temas para outras matérias que tentarei abordar aqui mais tarde. Link da reportagem.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Os Guetos de Livre Mercado Brasileiros


Em várias capitais de nosso país há um local para onde os consumidores rumam quando desejam comprar algumas importantes quinquilharias eletrônicas, aparatos modernos, enfeites de mau gosto e outros badulaques. Hoje fui à famosa feira dos importados de Brasília. Por conta do dia dos namorados que se aproxima e do feriado da última quinta-feira, a também denominada "Feira do Paraguai" como carinhosamente chamam-na os Brasilienses mais antigos, estava abarrotada e não havia mais vagas nos Estacionamentos das cercanias. Até achei bom ter usado o péssimo serviço de transporte público da capital federal, não precisei passar longos minutos procurando lugar para estacionar, nem me esquivar de incomodos guardadores de carros.

No final da década de 90, ano de 1998 a feira dos Importados, se moveu buscando maior profissionalização. Antes disso, o sítio da feira se encontrava no estacionamento entre o Estádio Mané Garrincha e o autódromo Nelson Piquet. Ficava bem perto do Colégio Militar de Brasília inclusive, eu mesmo fui à feira depois das aulas, essa atividade causava um pouco de mal estar entre os nossos superiores no colégio pois não era de bom tom alunos fardados perambulando entre artigos de procedência por vezes duvidosa e SEM a COBERTURA (que é a obrigação que tinhamos de usar a boina garança em espaços abertos)! A situação da feira era mais típica do que é hoje: formada por um amontoado de pequenas barraquinhas de camelô com uma cobertura de lona que refletia um amarelo-alaranjado sob um sol escaldante e formava um efeito estufa muito incômodo e peculiar, que nos fazia nos sentir dentro de uma sauna, como parte orgânica da feira. Hoje quem for à Brasília deve ir à "Feira dos importados", sem dúvida um ótimo passeio, agora a feira possui uma boa infraestrutura, conserva ainda os corredores apertados das entre lojas, invadidos por camisas e produtos made in China, os produtos estão organizados (nem tanto) em quatro grande blocos de aço pre-armado identificados por letras números e cores, nada do caótico número de lojas que havia na improvisada feira de outrora. A feira agora possui em volta bancos e vários empreendimentos comerciais estabelecidos que pagam impostos.

Impostos sobre impotação são o motivo para o surgimento desses guetos do livre comércio no Brasil. Em Belo Horizonte, o point mais conhecido é o Shopping Oiapoque e o shopping Xavantes, um ao lado do outro. No rio a Feira da rua Uruguaiana, em São Paulo é a 25 de Março e outros points quentes. Felizmente, essas medidas são muito melhor do que os camelôs pelas ruas, as feiras organizadas centralizam a procura (lá tudo se acha) e não importunam os consumidores não interessados. Ano passado em Belo Horizonte precisei comprar um deck porta-cds e dvds. Um artigo muito simples. Procurei em cinco papelarias e não encontrei o que queria, eu procurava um com lugar para no mínimo 20 cds, nas papelarias encontrei tímidos decks de 10 compartimentos, gostos nada sóbrios (um deles era coberto de um vinil maleável e azul claro imitando uma calça jeans) e custavam por volta de R$ 20,00. Fui descendo as ruas de Belo Horizonte, procurando nas papelarias até chegar muito próximo do shopping popular onde encontrei um deck de 40 lugares por apenas R$ 5,00. A mulher da loja nem me deu nota fiscal mas foi lá que encontrei o que procurava e não havia achado em nenhum outro lugar.

Esse fenômeno das feiras de importados ocorre por conta de nossas barreiras à importacão. O brasileiro paga, em média, 7,9% em impostos sobre produtos importados. Alguns produtos quase não pagam impostos como o Trigo que o Brasil necessita importar grande parte e até o momento tem tarifa zero. Outros produtos, como os itens tecnológicos não manufaturados dentro de nossas fronteiras, chegam a pagar mais de 100% de impostos. Já falei aqui nesse blog como o Ipod alcança um dos mais altos valores quando se compara internacionalmente. Os produtos brasileiros são extremamente caros. Recentemente comprei no Paraguay uma câmera de vídeo digital por R$ 169,90. No Brasil, a mesma câmera é encontrada não por menos de R$ 690,00.

No Paraguay, país que batiza a nossa feira de Brasília, as taxas média de importação são de apenas 3,3%. Poucos países latino americanos possuem taxas tão altas como as do Brasil, a Argentina que vem passando por um retrocesso nesse campo possui taxas de 5,3%, o Uruguay tem mantido uma política monetária e fical mais responsável e tem taxas de importação de 3,6%, o México já alcançou níveis de 1,5%. Bastante similar ao nível norte-americano que é de 1,5% e de 2,8 na União Européia.* Longe ainda das cidades-estado baluartes do open market: Cingapura e Hong Kong, que possuem zero de tarifa de importações.**

Os dados sobre a tarifa média sobre importações que utilizo aqui são do Economic Freedom Index da heritage.org. Creio que os dados deles são um pouco anêmicos e substimam a tarifa média de importações no geral. Segundo outra contabilização que aparece nessa reportagem da revista Exame, a tarifa média de importação do Brasil seria algo próxima de 11%. Uma equipe de pesquisadores do IPEA, Kume, Piani e Miranda (2008), estimaram a relação que há entre maiores alíquotas à importação fiscal e à evasão de impostos. Quando os impostos são altos as importações tendem a ser declaradas em um subvalor. Na estimativa geral os autores concluem que o acréscimo de um ponto percentual na alíquota de impostos provoca uma redução de cerca de 3,2% na arrecadação. Eu diria que um possível questionamento interessante a se fazer é quanto esses impostos não provocam de contrabando e estímulo à pirataria.

Muitas das feiras hoje legalizadas se mantinham pela origem ilegal de seus equipamentos, produtos de contrabando, ainda hoje há muita vista-grossa para esses produtos, simplismente porque reprimí-los todos tornaria nossa vida muito pior, pagando ainda mais pelos já altos preços dos artigos de tecnologia e alguns outros "superfluos" encontrados nessas feiras. A polícia tem feito uma grande repreensão à pirataria presente nas feiras, mas a polícia não tem como estar lá o tempo todo e uma medida que ajudaria bastante à combatê-la seria a redução aos impostos de importação. Esses maravilhosos guetos do livre comercio se desenvolvem em cada capital do nosso país justamente porque nossos impostos são elevados, são os impostos que levam às feiras do Paraguai. E são também por causa deles que milhares de brasileiros fazem um périplo para Cidade del Este e Pedro Juan Cabalero para se aproveitar das oportunidades de negócios que poderiam ser criadas internamente no Brasil, sem o custo desse sacrifício de muambeiros em seu trabalho de formigas.


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Para imaginar situações absurdas a que os impostos impôem, sabe-se que o Paraguay não possui portos marítimos, as mercadorias chegam lá subindo o estuário do prata e o rio paraná, por meio de avião ou das linhas férreas e rodovias que passam pelo Brasil. Um dos portos mais usados pelo Paraguay é o Porto de Paranaguá. Imagine que um carregamento de "Made in China" chega ao Porto de Paranaguá e faça uma viagem de mais de 12 horas por longos 730 Km para chegar à Ponta del Este. Suponha ainda que parte dessas mercadorias se destinem à consumidores Brasileiros na 25 de Março em São Paulo, o comerciante terá de fazer uma viagem ida e volta de 1.200 km em cada trecho. Ao final são gastos 3.130 Km para essa mercadoria chegar à São Paulo. Se o carregamento fosse direto de Paranaguá até lá, seriam apenas 450Km. O resultado é que 2.680 km foram rodados só para evitar os impostos. Esse raciocínio se torna ainda mais dramático e ilustrativo caso a mercadoria chegasse pelo porto de Santos. Ao fim, o país deixa de gerar grande volume de renda internamente. Satisfeitos ficam os importadores paraguaios, insatisfeitos todo o mercado consumidor do Brasil.

Bom, o que aconteceria caso o país não tivesse tão elevados impostos de importação? Ou pelo menos não tão mais altos do que nossos vizinhos de mercosul? Esse produtos seriam vendidos em lojas comuns em vários centros de consumo espalhados, o contrabando e evasão diminuiriam, as pessoas não precisariam deslocar para aquele lugar da cidade onde se encontram as bugigangas, elas seriam achadas a um preço mais acessível e justo em qualquer loja de shopping. As Feiras que eu tanto gosto de ir (pois elas tem um lado pitoresco muito interessante) teriam de lutar para marcar o seu diferencial, na verdade elas teriam de vender atrações, o "estilo de feira" é que deveria ser vendido. Na feira de importados de Brasília se acha muita coisa legal e típica do norte e nordeste, esse pode ser um diferencial. Mas é bem verdade que o motivo principal dela hoje perderia a razão de ser e teria de lutar com a concorrencia de qualquer esquina. O Paraguay perderia um tanto desse comércio para o Brasil, mas é sabido também que esse comércio traz muitas externalidades negativas para o Paraguay.

Por fim coloco um gráfico aí para mostrar a participação das Exportações e Importações em porcentagem do PIB, o Brasil tem aumentado sua própria participação no comércio exterior nas últimas décadas. Com relação à sua participação no comercio internacional Global ela é ainda pequena e estável, se restringindo a meros 1%. Na décadas de 90 e 2000 o país passou a ser relativamente mais aberto, mas podemos aumentar nosso desenvolvimento ainda mais incrimentando alguns pontos de abertura como a redução das tarifas e promoção dos Investimentos Estrangeiros Diretos, os IDR's.