sábado, 23 de outubro de 2010

Sobre o Preço das Histórias em Quadrinhos: uma análise econômica sobre HQ's

Em 2009 comecei a coletar dados sobre o preço e demais característcas das histórias em quadrinhos lançadas no brasil e que se encontravam no varejo de Belo Horizonte. De lá pra cá, consegui coletar informações sobre 95 histórias em quadrinhos de 15 editoras. A tabela abaixo fornece algumas características gerais sobre o banco de dados, foram coletadas informações sobre a editora, preço, número de páginas, material monocromático ou colorido, tamanho (em cm²) e tipo de capa. As informações estão resumidas na tabela 1.

Tabela 1. - Características Gerais do Banco de Dados Sobre HQ's no varejo de BH.
...|...Editora....|..|PçMédio|.páginas|Tamanho.|.P&B..|cartão ===========================================================================
1..| Conrad ......| 18 | 31,81 | 148,83 | 475,18 | 0,61 | 0,78

2..| Desid
erada ..| 3..| 37,77 | 173,33 | 423,67 | 0,67 | 1,00
3..| Devir .......| 12.| 32,61 | 136,00 | 488,43 | 0,50 | 1,00

4..| Gal .........| 1..| 39,90 | 144,00 | 588,00 | 1,00 | 1,00

5..| HQM .........| 2..| 25,90 | 118,00 | 396,00 | 0,50 | 1,00
6..| Mithos ......| 2..| 27,40 | 203,00 | 475,38 | 0,50 | 1,00

7..| Panin
i ......| 21.| 20,20 | 181,86 | 368,29 | 0,43 | 0,62
8..| Pixel .......| 2 .| 22,90 | 123,00 | 396,00 | ...0 | 1,00
9..| Quad na Cia .| 7 .| 40,97 | 388,86 | 433,49 | 0,71 | 1,00

10.| Quarto Mundo*
| 4 .| .8,73 | .67,50 | 428,75 | 0,50 | 0,50
11.| Record...... | 1 .| 27,90 | .64,00 | 566,50 | ...0 | 1,00

12.| Via Lettera .| 1 .| 22,00 | .64,00 | 368,00 | 1,00 | 1,00
13.| Zarabatana ..| 2 .| 32,50 | 128,00 | 368,00 | 1,00 | 1,00
14.| Inde
pendentes| 17 | .5,14 | .39,00 | 446,21 | 0,82 | 0,24
15.|.Outros.......|.
2..|.35,00.|.104,00.|.481,00.|.0,50.|.1,00 ===========================================================================
...| TOTAL .......| 95 | 27,38 | 138,89 |.446,86 | 0,58 | 0,88

===========================================================================
Fonte: dados coletados pelo autor.

* O quarto mundo é um coletivo de autores independentes.
pç médio = preço médio
Tamanho = cm²

P&B = proporção exemplares em Preto & Branco.
Cartão = capa de cartão.

Esse Banco de Dados tem dois problemas principais: 1) As HQ's escolhidas atendem ao meu gosto pessoal. Como sou um consumidor recorrente é possível que os preços desse banco de dados estejam subestimados, lembrando que a amostragem foi não probabilística. Além disso, o momento da compra pode ter sido influente para a coleta dos preços (promoção ou lançamento, momento de alta ou baixa). Minha impressão é de que a média dos dados está um pouco abaixo do preço do varejo daqui em Belo Horizonte (consumidores recorrentes sabem encontrar pechinchas). Tentei contornar esse problema captando algumas informações sobre lançamentos não adquiridos, com a ampliação do banco é possível eliminar um pouco o viés.

2) O Banco de dados foi construído para uma janela de tempo, sem uma data única de referência. Portanto, nesse período, é possível que tenha havido uma correção de preços devido a inflação. A coleta de dados recorrente e a informação sobre o local de compra pode ser importante para contornar esse efeito em pesquisas futuras.

Na tabela 1, organizada de acordo com o preço médio, podemos notar que editora "Quadrinhos na Cia" possui a média mais elevada de preços. No entanto, esse é um indicador que pode ser ilusório já que a escolha editorial da Q&C parece ser a de trabalhos com mais páginas. De outra maneira, vemos que os independentes estão entre os mais baratos, porém possuem o número reduzido de páginas.

Tabela.2 - Editoras por Preço médio.
=======================================
...|Editora..........|Preços |Paginas
=======================================
9. |Quad
na Cia......|40,97 .|388,86
4. |Gal..............|39,90 .|144,00
2. |Desiderada.......|37,77 .|173,33
15.|Outras ..........|35,00 .|104,00

3. |Devi
r............|32,61 .|136,00
13.|Zarabatana.......|32,50 .|128,00

1. |Conrad
...........|31,81 .|148.83
11.|Record
...........|27,90 .| 64,00
6. |Mithos...........|27,40 .|203,00

5. |HQM..............|25,90 .|118,00
8. |Pixel............|22,90 .|123,00
12.|Via Lettera
......|22,00 .| 64,00
7. |Panini...........|20.20 .|181,86
10.|Quarto Mundo*....|8,73 ..|.67,50

14.|Independentes....|5,14 ..|.39,00
=====================================

Fonte: Dados do Autor.
Preço = Preço Médio
Páginas = Número médio de páginas por exemplar

Dada essa característica, o mais interessante é analizar a informação de preço/página, isto é, quanto custa cada página da história em quadrinho que está sendo analizada. Para essa informação temos a tabela 3 abaixo:

Tabela.3 - Editoras por Custo de uma página.
======================================
11.| Record.......|0.4400000

12.| Via Lettera..|0.3400000
15.| Outros.......|0.3300000
4. | Gal..........|0.2800000
13.| Zarabatana...|0.2800000
3. | Devir........|0.2683333
1. | Conrad.......|
0.2516667
2. | Desiderada...|0.2266667

5. | HQM..........|0.2250000
9. | Quad na Cia..|0.1514286
8. | Pixel........|0.1450000
6. | Mithos.......|0.1450000
14.| Independe
ntes|0.1441176
10.| Quarto Mundo*|0.1350000
7. | Panini.......|0.1242857

==============================
Fonte: dados do Autor.

O que também pode ser representado pelo gráfico:

Gráfico 1 - Editoras por Custo/página decrescente.Temos 9 editoras acima do preço médio e 6 abaixo do preço médio.

Esse ainda não é o resultado final, pois sabemos que há várias medidas de qualificação para diferentes preços. Sabemos que histórias monocromáticas (geralmente em preto e branco) são mais baratas que as coloridas, e que números menores, tipo de papel e capa, influenciam bastante. Tomando cada uma das características da Tabela 1 e uma variavel identificadora para cada editora (comparadas às editoras independentes), nós temos o seguinte resultado da regressão:

custo/pagina = Intercepto + B1*(Tamanho) + B2*(Cor) + B3*(Capa_cartão) + B4*(Capa_dura) +Be*(editoras)

Tiramos a editora nº 14 (Independentes) como comparação.

Tabela.4 - Coeficientes estimados para a regressão de quadrinhos.
Coefficients: Estimate .Std. Error .t value .Pr(>|t|)

(Intercept).-2.636e-02..4.604e-02..-0.573 0.568565
Tamanho......3.262e-04
..9.511e-05...3.430 0.000980 ***
Cor..........8.033e-02
..2.084e-02...3.854 0.000241 ***
Capa_c.......4.571e-02
..3.039e-02...1.504 0.136763
Capa_d.......1.115e-01
..4.273e-02...2.609 0.010930 *
E_1..........3.146e-02
..3.632e-02...0.866 0.389079
E_2
..........4.235e-02..5.628e-02...0.752 0.454085
E_3
..........4.950e-02..3.894e-02...1.271 0.207519
E_4
..........6.885e-02..8.844e-02...0.779 0.438690
E_5
......... 3.632e-02..6.593e-02...0.551 0.583367
E_6
.........-6.957e-02..6.547e-02..-1.063 0.291305
E_7
.........-6.492e-02..3.458e-02..-1.877 0.064331 .
E_8
.........-8.385e-02..6.803e-02..-1.233 0.221556
E_9
.........-3.227e-02..4.346e-02..-0.743 0.460052
E
_10........-4.151e-02..4.663e-02..-0.890 0.376158
E_11
.........1.555e-01..8.843e-02...1.759 0.082619 .
E_12
.........2.006e-01..8.737e-02...2.296 0.024431 *
E_13
.........1.406e-01..6.564e-02...2.142 0.035376 *
E_15
.........1.136e-01..6.547e-02...1.735 0.086807 .

---
Signif. codes: 0 ‘***’ 0.001 ‘**’ 0.01 ‘*’ 0.05 ‘.’ 0.1 ‘ ’ 1

Residual standard error: 0.08156 on 76 degrees of freedom
Multiple R-squared: 0.6333, Adjusted R-squared: 0.5464 F-statistic: 7.291 on 18 and 76 DF, p-value: 2
.131e-10

Esses resultados são bastante interessantes e intuitivos. Sobre as características das revistas temos quatro fatores importantes:

1. Tamanho - Um Gibi com mais 1 cm de cada lado custa R$0,30 a mais. Outro exemplo: partindo de um formato A5 (15x21) para um gibi de tamanho americano (17,5x27), com as mesmas 100 páginas, temos, em média, R$ 5,14. Então, você consumidor final paga 5,14 para mudar de tamanho com as mesmas 100 páginas.

2. Cor - Uma HQ de 100 páginas colorida, tudo mais constante, acrescenta, só pela cor, R$ 8,00 no preço em relação a uma mesma HQ preto e branca de mesmo tamanho e da mesma editora.

3. Capa cartão - A capa do tipo papel cartão ou brocura (p-valor = 0.13) acrescenta R$ 4,57 a uma história de 100 páginas.

4. Capa dura - A capa dura, ou seja, histórias com capa encadernada em papelão grosso e impressão, fazem uma página ficar R$0,11 mais cara. Em uma revista de 100 páginas isso equivale a dizer R$11,15 a mais pela capa diferenciada. A comparação é a capa de folha comum, tipo folha de revista ou papel.

Para as editoras, chamam a atenção alguns detalhes. O maior deles é que mesmo em comparação às edições independentes, as editoras não são muito distintas. Em outras palavras, controlando pelas diferenças das revistas, número de páginas, tamanho, cor e capa, as editoras são relativamente semelhante entre si. De maneira mais curta e grossa, pela minha base, as editoras são iguais. no entano, elas diferem na colocação de mercado. As editoras independentes tendem a colocar revistas menores, com menos páginas, em preto e branco e com capa de folha, por consequência mais baratas. A Devir, por exemplo, tem revistas maiores, capa cartão, e metade das revistas são coloridas. O fato das editoras não diferirem muito é interessante e pode sinalizar por um setor competitivo.

Há alguns pontos de atenção, destaque para:

7. Panini;
11. Record;
12. Via Lettera;
13. Zarabatana;
15. Outras (que tem a Dupla Criação e a CosacNaify)

A Panini apresenta uma tendência a ter uma página mais barata do que as editoras indepententes. A cada 100 páginas, uma HQ dessa editora é R$ 6,50 mais barato, esse dado é significante a 10%, o que não é muito. Mas o que ele quer dizer é um tanto intuitivo. Se você encontrar uma revista independente de 100 páginas (o que é raro) e uma HQ da Panini para comparar, o exemplar da Panini será R$6,50 mais barato, isso deve ser porque a editora tem muito mais escala que os independentes. Para as editoras Record, o raciocínio é o contrário, uma revista da Record com 100 páginas, tudo mais constante, custará R$15,55 mais caro que uma independente. Para a Via Lettera o valor é R$ 20,06, para Zarabatana R$ 14,00 e para as "Outras" será R$11,36.

Observo que a significância das editoras nº 11, 12, 13, 15 são de 10%, 5%, 5% e 10%. O banco precisa de mais dados de quadrinhos destas editoras acima. Então, os valores anteriores podem estar apresentando significância pelo fato da pequena amostra para essas editoras. Isso também vale para as demais que não são significativas. Chamo atenção para as editoras:

6. Mithos;
8. Pixel;
9. Quadrinhos na Cia; e
10 Quarto Mundo.

Estas possuem sinal negativo, o que quer dizer que elas podem ser mais baratas do que as independentes da minha base, mas não se pode dizer com certeza pois não foram significaticavas. As três últimas da relação acima foram significativas no teste da ANOVA indicando que são diferente dos demais conjuntos, isso acontecer para a Devir também, com a difença o sinal é positivo, ou seja, tem página mais elevada do que as independentes.

Por fim, acho que essa análise tende a mostrar o que todo consumidor já sabe intuitivamente: tamanho, qualidade da capa e cores importam muito no preço. As editoras nem tanto. No mais, parece ser um mercado competitivo, de acordo com a base o índice de Hirschman-Herfindall para medir uma concentração de um mercado é de 0.15 a 0.21 dependendo de como se encaram as independentes (esse índice é igual a um para o mercado monopolista e zero para perfeita concorrência).

Uma ressalva é que os bens não são nada homogêneos, isso quer dizer que não há uma substitubilidade muito alta entre um quadrinho e outro. Se o cosnumidor deseja a obra de determinado autor, aquele livro passa a ser único e não mais comparável com as demais opções. O consumidor pode se tornar também cativo de uma série. Ainda assim, não há sinais de que quando se considera a qualidade dos diferentes materiais por editora, os preços do mercado não são muito mais altos do que os preços das editoras independentes. Minha impressão como leitor é de que as HQ's no geral poderiam ser mais baratas. Há duas possibilidades: ou os preços estão todos competitivamente elevados ou eles competem em patamares de concorrência normais e o custo e estratágias no varejo que os diferencia. Acho que para testar concorrência, eu preciso de uma base maior, talvez minha base tenha sido afortunda em ter preços comparativos, pois R$20 a R$ 40,00 cada exemplar, é o preço medio no qual eu compro HQ's.

Interessante que a Panini, que é uma das poucas que ainda trabalha com distribuição mais massiva em bancas e preço tabelado, tenha aparecido como a única editora significante das mais mais baratas. Talvez isso explique seu market share. Um achado menos intuitivo: a medida que as histórias em quadrinhos ganham mais características positivas tais como cores, capa dura, encadernação maior e mais páginas, parece que seu preço varia mais. Em termos estatísticos estou dizendo que desconfio de uma heteroscedasticidade dos dados em relação à tamanho e cor principalmente.

Fiz alguns testes para ver se os erros são normais.

Gráfico2. - Resíduos da Regressão.
Será que meus resíduos são normais, tendo a ver que eles possuem uma dispersão positiva maior do que os dados de resíduos menores do que zero. Abaixo fiz um teste para a normalidade dos resíduos:

Gráfico3. - Teste da normalidade dos resíduos.



Basicamente, o teste é comparar a distribuição normal (vermelha) com a resíduos observada (preto). Fiz o teste da distribuição F 100 vezes (a geração da normal foi aleatória), em 12% dos casos rejeitei a normalidade, e aí?!

Acho que o modelo está bom, mas não dá pra ficar 100% seguro, faltam algumas informações importantes, essas podem ser:

1. Estabelecimento da compra.
2. Mais exemplares para algumas editoras.
3. Outras características tais como qualidade do papel e autores.

Para finalizar com uma lista de referência fácil:

Tabela.6 - Os dez mais baratos custo página:
=======================================================
Nome.....................- Editora..... - Custo Página
=======================================================
1. .Jacaré Alegre....... - Independente - R$0,00
2. .Homunculus1......... - Panini...... - R$0,04
3. .Homunculus7......... - Panini...... - R$0,05
4. .Umbigo Sem Fundo.... - Quadr na Cia - R$0,06
5. .O corno que sabia... - Pixel....... - R$0,06
6. .A.T.U.M. ........... - Independente - R$0,06 (olha o jabá :))
7. .Tex Gigante......... - Mithos ..... - R$0,08
8. .Retalhos............ - Quadr na Cia - R$0,08
9. .Melofia Infernal.... - Conrad...... - R$0,09
10. Patacoada........... - Independente - R$0,09
10. Prego 3 ............ - Independente - R$0,09
10. Graffitti 76% Qua... - Independente - R$0,09
========================================================


Tabela.7 - Os dez mais caros custo página:
========================================================
Nome..................... - Editora.... - Custo Página
========================================================
1. .Sábado dos Meus Amores - Conrad.... - R$0,61
2. .Big Guy............... - Conrad.... - R$0,48
3. .Predadores............ - Devir..... - R$0,47
4. .Clic 4................ - Conrad.... - R$0,44
5. .Asterix e Seus Am..... - Record.... - R$0,44
6. .Tocaia ............... - Devir..... - R$0,40
7. .A Casta dos Metabarões - Devir .... - R$0,38
8. .Xampu Lovely Losers... - Devir..... - R$0,37
9. .Che................... - Conrad.... - R$0,37
10. O Prolongado Sono SrT. - Zarabatana - R$0,36
10. Gente Feia na TV...... - Independen - R$0,36
10. Demolidor o Homem sem. - Panini.... - R$0,36
=========================================================

Espero que tenham curtido o post :)

Posso passar o banco a quem se interessar e podem me ajudar também com mais informação. A Parte da Rotina está nos comentários.
Obrigado!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Em defesa do direito dos analfabetos se tornarem elegíveis.

Está na crista da onda dos noticiários nacionais o Art. 14, paragrafo 4° da Constituição Federativa do Brasil. Isso porque se levantou suspeita sobre a condição do palhaço Tiririca ser iletrado e ter supostamente fasificado a declaração de que se enquadrava no quesito do artigo.

Vejamos o que diz o texto da Carta Magna:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - Plebiscito;

II - Referendo;

III - Iniciativa Popular;

O paragrafo 3° e seus incisos estabelecem as condições para essa elegibilidade.

Com a exceção dos incisos:

I - a nacionalidade brasileira; e

V - afiliação partidária.

Entendo que os demais incisos do § 3º são plausíveis ou justificáveis em estabelecer limites à liberdade e condições para a elegibilidade. Sobre o inciso I eu não concordo, creio que é possível ter candidatos ao governo de estados que sejam naturalizados, assim como vereadores, deputados distritais, deputados estaduais e federais. A naturalidade seria, então, uma condição que poderia nçai ser válida apenas para o senado e presidência. Sobre o inciso V eu o acho absurdo. Qual a diferença entre um candidato se candidatar sem partido e ser candidato por um dos nanicos partidos não-representativos que nós temos?! Eu acho até mais legítimo um candidato lançar candidatura independente caso não se julgue representado e nem representante de nenhum partido.

O voto partidário não seria empecilho, e a única consequência de não exigir filiação partidária é que o candidato "independente" não teria chance de "capturar" votos de nenhum outro candidato eleito, o que seria até benemérito, já que se discute muito os efeitos negativos que a transferência de voto possui para a composição das câmaras.

O quarto parágrafo diz:

§ 4° - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.


Acho premente discutir agora o art. 14. § 4°. Os analfabetos são uma silenciosa minoria na sociedade brasileira, resultado de uma política educacional falha que não consegue nem mesmo colocar seus alunos de 6 a 8 anos na escola e é incapaz de garantir um grau de literalidade total para a sociedade. É triste, mas a verdade é que quase 10% da população brasileira se encontra ainda nessa condição. É uma minoria silenciosa, acostumada a não exigir muito, mas não por isso essas pessoas não deveriam ter menos direitos.

Nesse ponto a constituição entra em contradição com o nossa realidade conjuntural, pois ao mesmo tempo em que ela expõe no art. 6° que educação é um dos direitos fundamentais, o Estado Brasileiro não dá condição mínima de um indivíduo, na época que lhe é mais propícia ou seja nas idades iniciais) se alfabetizar (isso é comprovado cientificamente, os anos iniciais são aqueles em que se torna mais fácil adquirir linguagem assim como dominar a leitura e escrita).

O argumento de que os analfabetos são assim por questão de escolha não cola. Até porque não há criança que não escolha não saber ler, ela não aprende porque não pode, foi impedida, não tinha liberdade para decidir os rumos de sua própria educação. E passado esse prazo inicial fica muito mais difícil recuperar. A força de vontade tem de ser tripla ou quádrupla. Alguns conseguem, mas eles são a exceção e não a regra. Educação é liberdade! Saber ler torna a pessoa livre para decifrar códigos e seu mundo se torna mais amplo.

Há um argumento técnico que seria dizer que um parlamentar ou um representante do executivo tem de saber a ler para interpretar e redigir as leis. Isso é ideal, mas longe de ser uma condição necessária, mais longe ainda da verdade. Há muitos legisladores bem letrados que não leem o que escrevem, e eles mesmos não redigem sequer uma vírgula. Para isso, muitos usam os assessores.

Pois bem, se o analfabeto pode ser assessorado para o voto, porque não pode ser assessorado para legislar? E que sociedade hipócrita é essa que estabelece que educação é direito de todos e dever do Estado (Art. 205), mas não consegue evitar que pessoas mentalmente capazes se alfabetizem, e então lhes tolhe o direito de representarem uma parcela de 10% que também têm direitos a ter voz ouvida?

É triste um país que necessite discutir direitos de minorias nesses termos, é triste já que não consegue cumprir o direito mais básico de alfabetizar as pessoas. Dado que esse próprio estado não foi suficiente para garantir essa condição mínima, como ele próprio pode tirar um direito a quem ele não foi capaz de assegurar?

Aos exmos senadores e deputados federais ou até o presidente da república, não seria possível e uma boa sugestão iniciar uma proposta de EC para alterar o texto constitucional do 
§ 3º e § 4º parágrafos?!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Um pouco mais de Demografia:

Em resposta a uma pergunta de demografia mandei o seguinte texto para uma lista de e-mails de discussão:

1. Existe uma taxa de natalidade ótima?!

Não existe demografia saudável ou não saudável. Não há como saber o que é bom em termos de demografia, dá para saber as consequências de determinado movimento populacional. Em teoria, a demografia tem um equilíbrio de uma Taxa de Fecundidade Total = 2.0.

Isso quer dizer, em média, dois filhos por mulher.

A mulher repõe a si mesma e ao homem gerador da criança. Na prática diria-se que a taxa é algo 2.1 ou 2.2. já que as crianças tem de sobreviver até pelo menos iniciarem a idade reprodutiva. Como sempre morrem algumas crianças até chegar lá, essa taxa de equilíbrio é 2.2.

Se a mortalidade infantil e juvenil fosse nula, a TFT = 2.0 nos garantiria uma taxa de crescimento vegetativo = zero. Uma população que não cresce nem decresce. Isso é o mais próximo de um equilíbrio dinâmico, mas não dá para dizer se bom ou ruim.

Gosto da analogia torneira e balde:

Demografia é algo tão simples como uma torneira que enche um balde que tem um pequeno furo no fundo: um sistema de equações diferenciais. A torneira é a natalidade e as águas são as pessoas (o nível de água é a população), o balde são os recursos (o meio) e a mortalidade é o furo.


Uma população que cresce é uma torneira com vazão mais alta do que a do furo lá de baixo, assim, mesmo tendo um vazamento o balde enche, podendo até transbordar, o que na analogia quer dizer que a população sobrepassou seus recursos. Era o que os teóricos da explosão demográfica achavam que aconteceria, o balde ia transbordar se nada fosse feito.* 
Os países desenvolvidos de hoje tem um balde que foi se enchendo lentamente e hoje a torneira apenas pinga. O furo também diminuiu bastante, isso quer dizer que o tempo para um pingo de água sair lá de cima e chegar lá em baixo demora muito. Todo o sistema fica muito mais lento.


Claro que em demografia os modelos ficam muito mais complicados. As águas do balde é que escolhem se vão ou não abrir mais a torneira. Cada pingo de agua tem sua própria opinião sobre o assunto. O furo está em todos os níveis do balde, para os pingos mais "novos" e para os mais "velhos", os baldes crescem e encolhem de acordo com a disposição, tenacidade, força de vontade e trabalho de suas "águas". Há inúmeros vasos comunicantes (migração) com outros baldes que tem seus próprios furos e torneiras. Enfim, não se sabe ao certo como os furos mudam de tamanho, como o balde cresce e encolhe, se há obstrução ou não nos vasos comunicantes e como essas loucas e turvas águas decidem abrir ou não a torneira.


2. Como evitar as consequências negativas de um baixo crescimento vegetativo da população?
Quando a taxa de natalidade é baixa há uma menor rotatividade e até um encolhimento da população, a razão de dependência: inativos/PIA cresce muito o que requer muitas despesas de previdência e saúde e há menor geração de renda, já que grande parcela dessa população se encontra aposentada.


No entanto, isso pode ser contrarrestado por duas coisas, maior produtividade dos trabalhadores ativos e uma aplicação da riqueza dos aposentados em recursos produtivos. Isso gera um excesso de poupança em um país que cresce lentamente e por isso os juros em alguns países desenvolvidos são tão baixos (não só por isso, mas também). No caso do Japão, por exemplo, esse excesso de poupança é turbinado também pelos hábitos orientais de poupar bastante.

Algumas soluções:

1. Trazer imigrantes, porém esses estrangeiros não devem trabalhar só na marginalidade. Devem contribuir com maior produtividade e dinamismo para surgirem oportunidades para o excesso de poupança.

2. Se o país possui um sistema ainda muito engessado em questão de emprego e previdência, isso teria que ser mudado.

3. Seria interessante também investir abroad já que o resto do mundo cresce mais rápido do que eles e isso lhes renderia o maior retorno de sua poupança. Os investimentos podem tentar descolar um pouco também da macroeconomia norte-americana que é dinâmica mas perde espaço para emergentes, foi esse atrelamento que arrefeceu a economia japonesa, eles sentiram a crise americana dos anos 90 mais do que os próprios americanos. Uma população com muitos idosos é uma população rica em equities. Os demógrafos chamam isso de segundo Bônus demográfico, que é uma pequena sobre riqueza que as pessoas geram logo antes de se aposentar, esses ganhos em equities deve ser aplicado rentávelmente e ajuda o país a se financiar de maneira barata.

4. Políticas micro para a fecundidade. Isso quer dizer dar maior liberdade para as mulheres terem filhos, estimular clínicas de aborto e fertilidade. Homens e mulheres com mesmos direitos de licença maternidade e paternidade, além de equiparar e eliminar a discriminação salárial das mulheres, essa medida torna a criação de filhos um pouco mais barata e tem dado certo no noroeste europeu.

OBS: No quesito 4, há algumas medidas mais polêmicas como bolsa filho da espanha e redução de impostos para quem tem mais filhos, considerando que em países de baixa fecunidade mais filhos geram externalidades positivas pois gera trabalhadores potenciais e ativos. Mas acho esses pontos podem ter efeitos colaterais indesejados em termos de gastos públicos e essas medidas diretas de estimulo à fecundidade são em geral fracassadas.

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* A torneira de Malthus abria com progressão geométrica e seu balde com furo crescia em proporção aritimética, Malthus acreditava que era o furo que regulava o sistema no chamado xeque positivo e que dava para tentar controlar a torneira em um xeque preventivo mas que a vontade dos sexos tornava isso muito difícil, então era mais provável o primeiro xeque.

** É xeque com 'x' de xeque-mate!!!

*** Tudo isso, torneira, balde, furos e vasos comunicantes pode ser traduzido em equações matemáticas onde a variável principal é nossa informação ligando as águas e o tempo. A equação de Lotka ( é o sistema de partida mais simples para se começar a pensar sobre isso).

**** Eu já tinha usado essa analogia do torneira-balde em um trabalho da demografia, mas aqui pude explorá-la com mais liberdade.

***** A pergunta dois se situava particularmente ao caso do Japão, mas eu generalizei um pouco a discussão para encaixar aqui no blog.
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Notas Rápidas

#1

Na última quinta-feira, interessante tese do colega Everton Lima foi defendida no departamento de demografia do cedeplar. Fui interessante assistir ao tema proposto. Dentre os comentários, me destacou a impressão do professor Bruno Pinheiro Wanderlei Reis, da banca, que apontou que é importante a demografia como em elo de ligação entre o componente micro e o macro.

Nas ciências sociais, saber como se dá esse 'link' entre o comportamento micro dos indivíduos e as propriedades macro emergentes é algo importante e de difícil fundamentação. Ache interessante ele colocar esse ponto, acho que está em linha com o post onde falei um pouquinho disso.

#2

Para não esquecer fundamentos macro que estão fantantes na campanha eleitoral. Achei interessante a seguinte reportagem da folha de São Paulo. Infelizmente está só para assinantes, mas em essência a matéria diz que há muita pouca definições sobre temas econômicos importantes e isso está revertendo algumas expectativas de mudanças para 2011. Complementa-se que os candidatos tem enfatzado em cortar impostos e aumentar gastos, a conta não fecha. Segue a chamada:

"Piora expectativa para economia em 2011"

Enquanto candidatos ignoram temas macroeconômicos, preocupação de analistas têm crescido durante campanha


Metas de superavit não têm sido atingidas, mas promessas eleitorais são de reduzir tributos e de aumentar gastos
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#3

Amigos me mandaram o link interessante abaixo colocando alguns detalhes a mais na comparação de indicadores dos governos FHC e Lula, (leiam com cautela pois é wiki):

http://pt-br.governobrasil.wikia.com/wiki/Governo_Brasil_Wiki

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Loucura, Loucura, Loucura

Lennon faria 70 anos amanhã se fosse vivo. A bem pouco tempo postei uma interpretação bem diferente de imagine aqui no blog, mas não tinha em mente essa data comemorativa.

Outro mini-fato-crônica:

Ontem tava num Bar aqui no Leme, Rio de Janeiro, e do nada um cara em uma mesa distante gritou com muita vibração:

- "Tem que todo mundo votar em Serra, porra!"

Veio então um silêncio sepulcral de 2 a 3 segundos, todo mundo esperando a próxima reação do cara. Daí ele falou que é de São Paulo, e que tem que votar Serra nessa porra e gritou: "Corinthians!"

Uma carioca noutro canto ficou enfezada e destilou xenofobismo:

- "Volta pra São Paulo, %$@9*!" Gritou Nense e Marina!

Política e futebol são coisas da mesma natureza, pensei. E ficamos em nossa mesa pensando quem era mais bizarro, o paulista bebum virar e gritar pra todo bar que tem que votar no Serra. Ou a carioca que tomou as dores (ficou mesmo enfezada) xingou o cara de tudo que é nome e destilou seu xenofobismo. Acho que o cara que gritou Serra e Corinthians era mais inofensivo.

Gente louca...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eleições

Pessoal,

Rápida nota sobre as eleições: todos os grandes veículos de comunicação do Brasil estão com uma boa cobertura das eleições. Dou particular destaque ao site do uol: http://placar.eleicoes.uol.com.br/2010/1turno/


Fonte: UOL http://placar.eleicoes.uol.com.br/2010/1turno/

Vale ressaltar o bom trabalho e divulgação do TSE, fonte de dessas informações e gráficos, mas não achei a informação de presidente por estado que está no gráfico acima que elaborei a partir do uol.

Marina teve uma surpreendente arrancada o que levou nossas eleições para o segundo turno, mas a candidata e o seu partido PV, só levaram o primeiro lugar no Distrito Federal. Em Minas Gerais deu o famoso voto Dilmasia, eleitores votando em Dilma (PT) para presidente e Anastasia (PSDB) para governador. E para o governo dos estados a maior parte dos entes ainda não decidiu, levando a eleição para mais um turno.

O PMDB e suas coligações venceram em 4 estados. Assim como o PSDB e o PT. O PSDB no Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Tocantins e o PT no Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe e Acre.*
Fonte: TSE. http://divulgacao.tse.gov.br/

O PSB estava coligado PRB nos estados em que venceu no primeiro turno. O democratas se aliou ao PTB em Santa Cataria e PSL no Rio Grande do Norte. Para mais detalhes das coligações e dos resultados dos segundos lugares, sobre os segundo turno e demais candidatos aos cargos ao senado e câmara federal sugiro visitarem o sítio do TSE.

* O post re-editado nessa segunda, pois até hoje a tarde o site do TSE não confirmava ganhador. Foi possível ver o que ocorreu no Jornal Nacional.

domingo, 3 de outubro de 2010

Qual Veículo Usar?! Um simples DEA para modais de transporte

Uma grande questão do mundo moderno é saber qual o melhor meio de transporte para cada ocasião.

Não são tantas as variantes que influem nessa decisão: como outputs podemos enumerar:

1. Quilômetros (Km)
2. Pessoas Transportadas

E como inputs podemos ter:

1. Custos
2. Tempo
3. Conforto

Os outputs são muito simples, são bem definidos e consistem em levar o maior número de pessoas do ponto A até B. Isso não mudou com o passar dos séculos, o que mudou (e muito) foi o lado dos inputs. Custos, tempo e conforto mudaram, mas o que não mudou foi a necessidade de uma viagem com menor custo e tempo com o máximo de conforto possível (conforto, aliás, poderia estar nos outputs, mas coloquei nos inputs, pois julgo que está muito atrelado ao tempo de viagem). Com novas questões ecológicas poderiamos incluir como input as emissões de carbono. Viajar um mesmo trajeto com o mínimo de emissões possível é melhor...

Pois bem, existe uma ampla gama de transportes disponíveis e cada qual é mais adequado para determinada ocasião. Nesta próxima sexta vou ter de escolher entre três deles: carro, ônibus ou avião para ir até o Rio de Janeiro. Tenho de trabalhar com minhas restrições de tempo, orçamento e conforto para fazer a escolha.

Decidi então fazer um pequeno DEA - Data Envelopment Analysis levando em conta dois produtos: distância, pessoas/veículo. E dois insumos: custos de combustível e tempo. Não inclui nem conforto nem poluição na conta pois eles são um tanto difíceis de calcular.

A comparação entre multimodais e sua eficiência custo/benefício não é coisa nova, engenheiros de transporte se dedicam muito a ela. No wikipedia achei um interessante artigo que compara os vários meios (está um bocado confuso mas muito interessante). O difícil é que os meios de transporte variam bastante dentro de uma mesma categoria e entre categorias. O combustível é diferente, a potência e rendimento dos motores se altera de acordo com as condições ambiente, o peso é uma variável importante, condições da via, enfim, levar tudo isso em conta é necessário, mas torna o problema bem intrincado, o que não é meu objetivo aqui. Quem quiser tratar o tema com mais tecnicidade pode pegar a idéia e estudar os veículos. Uma sugestão seria trabalhar com uma medida de Trabalho, dessa maneira é possível comparar os diferentes veículos em uma base comum.

Eu decidi compará-los em dois aspectos básicos: velocidade em Km/h e consumo em km/R$*litro. Não é a escolha ideal, já que grandes máquinas a idéia de Km/litro não é a mais precisa e adequada, de todo modo, fiz todas as contas possíveis para aproximar os veículos com que trabalhei sob essa mesma medida.

Os veículos e as características usadas são:

TABELA.1
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VEICULO ssssssssssssss|Cap. max pes| Km/h |Km/litros| Combustível
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1. Motocicleta............ 2 sssssssss60 sssss30 ssssGasolina comum
2. Carro Econômico........ 5 sssssssss80 sssss15 ssssGasolina comum
3. Carro Utilitário....... 5 sssssssss85 sssss12 ssssGasolina comum
4. Van ou microônibus..... 12 ssssssss70 sssss11 ssssDiesel
5. ônibus................. 40 ssssssss70 sssss2.04 ssDiesel
6. Avião Jato............ 180 ssssssss700 ssss0.024 sGasolina Avião
7. Avião Monomotor........ 6 sssssssss200 ssss1.6 sssGasolina Avião
8. Helicóptero............ 5 sssssssss200 ssss0.66 ssGasolina Avião
9. Metrô/Trem............. 900 sssssss55 sssss3.4 sssDiesel
10.Barco.................. 800 sssssss28 sssss0.01 ssDiesel
11.Bicicleta.............. 1 sssssssss15 sssss- sssssEnerg fisiomoto
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Essas velocidades e consumo são de estrada e tânsito livre e no caso de aviões, barcos e trem, não conta o tempo parado no terminal.* O consumo de comustível será comparado em preços e esses foram mantidos fixos para padrões similares aos daqui de Minas Gerais:

Gasolina comum = R$ 2,00/litro.
Diesel = R$ 1,63/litro.
Gasolina de avião = R$ 6,24/litro.

Aqui o que interessa não são tanto os valores nominais do litro de combustíveis mas a relação entre eles. Essa relação oscila mais ou menos de acordo com as intempéries do mercado mas tende a uma proporção relativamente fixa.

O diferencial de exercício de comparação multimodal não é tanto a eficiência de consumo de compustível, pois isso há diversos trabalhos que são infinitamenta mais completos, mas sim uma comparação com o tempo de viagem e com distâncias, separando as perspectivas individual (o transporte que te leva no menor tempo e custo) da perspectiva coletiva (o transporte que leva mais gente ao menor custo-tempo).

As tabelas 2 e 3 resumem os resultados encontrados:

TABELA.2

PERSPECTIVA INDIVIDUAL
: do veículo mais eficiente para o menos eficiente de acordo com a distância a ser percorrida.

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.....10 Km.. | ...50 Km... | ...100 Km.. | ...1000 Km. |
--------------------------------------------------------------------
ordem | efic |ordem | efic |ordem | efic |ordem | efic |
1.s ss| 100 s|3. sss| 100 s|1. sss| 100 s|2. sss| 100 s|
2.s ss| 100 s|5. sss| 100 s|2. sss| 100 s|4. sss| 100 s|
3.s ss| 100 s|9. sss| 100 s|3. sss| 100 s|5. sss| 100 s|
11. ss| 100 s|11. ss| 100 s|6. sss| 100 s|6. sss| 100 s|
5. sss| 98 ss|2. sss| 99 ss|4. sss| s94ss|3. sss| 98 ss|
4. sss| 94 ss|1. sss| 94 ss|5. sss| s89ss|9. sss| 96 ss|
9. sss| 84 ss|4. sss| 94 ss|7. sss| s88ss|7. sss| 92 ss|
6. sss| NA ss|10. ss| 80 ss|9. sss| s74ss|10. ss| 76 ss|
7. sss| NA ss|6. sss| NA ss|8. sss| s72ss|8. sss| 67 ss|
8. sss| NA ss|7. sss| NA ss|10. ss| s58ss|1. sss| NA ss|
10. ss| NA ss|8. sss| NA ss|11. ss| sNAss|11. ss| NA ss|
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'NA' são casos em que não se aplica o modal para a distância, custos se tornam proibitivos ou os tempos são demasiado longos.

Por enquanto é isso. Em breve coloco aqui os resultados da perspectiva coletiva, a interpretação assim como uns gráficos legais. ;)

Abraços

* Para distâncias pequenas menores que 100km encare o trem como um metrô.

sábado, 2 de outubro de 2010

Atlas Shrugged de Ayn Rand: reedição da ed Sextante

A editora sextante relançou a obra mais famosas de Ayn Rand:

http://www.esextante.com.br/

Teve o título traduzido como "A Revolta de Atlas" está 69,90 e conta com três volumes.

Comecei a ler o livro em inglês e não prossegui na leitura pois o livro era de biblioteca pública com prazos curtos e renovação presencial, ou seja, não estava com tempo para ler e a renovação era um pé no saco.

Tô achando o preço um pouco salgado, o livro em inglês era essa mesma capa porém um só volume com folhas finas de livro de bolso. Em lojas dos EUA custa em média 10 a 15 dólares. Em tempos de real valorizado isso não passa de 25 Reais.

A diferença de R$ 69,90 - R$ 25,00 = R$ 44,90 é o valor da tradução, a escassez de leitura no Brasil (pouca oferta, consumidores que compram são aqueles em que o excedente é alto), estratégia de vendas (vender pouco mas para quem paga caro), Impostos Indiretos* e custo Brasil.

Tá bom para vocês ou querem mais?!

De todo modo, vale muito a pena conferir.

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* Esse post foi alterado no dia 23/10/2010. Onde antes se lia apenas "impostos" está "impostos indiretos". A troca se dá a título de precisão, pois aos livros cabe a distinção da não incidência de alguns dos impostos diretos do Brasil: ICMS, IPI, Imposto de Importação (II) e Imposto de Expotação (IE). No entendimento atual do STF, vale a incidência do PIS, COFINS, IRPJ e o Imposto sobre o Lucro Líquido (ISLL), pois o fato gerador de tais impostos é o lucro das empresas e não a comercialização do bem.

Encontrei aqui em um sítio tributosdf uma boa explicação sobre o assunto.

Então, há alguns impostos diretos incidentes sobre os livros, porém bem menos do que nas demais mercadorias em geral do país. Esse ponto gerou polêmica e uma longa thread em uma lista de e-mails para discussão de economia. Um colega participante chamou atenção para a insenção dos livros. Em sua concepção impostos indiretos fazem parte do custo Brasil. Caso eu tivesse me referindo aos impostos indiretos no meu conceito de custo Brasil, haveria dupla contagem em mencionar o custo Brasil e impostos separadamente.

O conceito de custo Brasil é bem genérico, não é ponto estabelecido, pois é usado basicamente para explicar o preço elevado não competitivo que temos em alguns setores. Eu costumo a separá-lo dos impostos. Custo Brasil em minha concepção são:

- custos burocráticos
- falta de infra-estrutura ou indadequada
- corrupção,
- superfaturamento
- desperdício e ineficiência

Impostos diretos e indiretos não são custo Brasil, pois eles não são uma particularidade brasileira. Talvez seja uma particularidade o código tributário complexo, mas aí seria questão de acrescentar ao custo Brasil a legislação tributária que demanda tempo para destrinchá-la e aplicá-la ou até se esquivar dela e não os impostos propriamente.

Os impostos são iguais impostos diretos + impostos indiretos. Considero como impostos os tributos e contribuições (que não são tão voluntárias no Brasil). E lembrando sempre que a incidência tributária econômica depende das elasticidades e não do que está propriamente passado na lei. Dessa forma, dependendo da elasticidade de oferta e demanda os impostos indiretos que incidem sobre os insumos de produção podem acrescentar uma parte considerável ao preço final dos livros.

O sistema brasileiro de impostos é tão emaranhado e com tantas incidências em cascata, que é praticamente impossível considerar que há alguma mercadoria final completamente isenta em nosso país. Não é a toa que nossa carga tributária (total da arrecadação/PIB) e o estímulo a informalidade são elevados. Dessa forma, os impostos além de elevarem o preço da forma que podemos estabelecer pelo simples computo da alíquota*base, elevam de maneira dificíl de estabelecer os preços por conta de acréscimos de impostos indiretos aos custos, teríamos de contar os impostos em toda cadeia. Na questão do livro, ajudaria saber:

Quanto foi repassado de impostos no preço das mercadorias utilizadas nos insumos, no capital e trabalho empregados na confecção do livro? E qual o poder das editoras em repassar esses impostos que pagou indiretamente nos insumos, custos variáveis e fixos ao consumidor final?

Espero que o ponto fique mais claro. Obrigado.