quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Desenho do Programa?!

Uma área importante da Avaliação de Programas é o estudo do Marco Lógico, ou do chamado Desenho do Programa. Isso quer dizer um plano geral para o programa seguir, mas mais do que isso, o desenvolvimento de questões relacionadas, um plano lógico de contenção de quais os insumos necessários e quais os produtos pretencem a sua função-objetivo. Em setembro desse ano participei do II seminário sobre Qualidade do Gasto Público promovido pela Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul. Foi uma excelente oportunidade para falar sobre Marco Lógico. Segue o Slides (No Link há também as demais apresentações, vale a pena conferir).

Essa apresentação só foi possível graças ao bom livro do prof. Michael Bamberger, Jim Rugh, Linda Mabry, o Real World Evaluation. O Bamberger veio à Fundação João Pinheiro em 2008. Além disso, agradeço a Lycia Lima que me passou a dica do livro e por dois slides que usei da aula de Avaliação Social de Projetos do curso de Adminitração Pública da FJP.




E em Junho, tivemos pela Fundação João Pinheiro, FAPEMIG e Banco Mundial, o II Seminário da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação. Lá tive a idéia da charge abaixo, é meio Calvin e Haroldo, minha intenção era colocá-la logo no final da apresentação aí de cima, mas não tive tempo de digitalizar a imagem que ficou lá na sala. Só hoje consegui e com efeito, publico a charge aqui. Uma dica aos interessados na avaliação de programas é filiar-se à Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação, para entrar em contato com pesquisadores do Brasil e internacionais que se dedicam ao tema. A filiação é de graça, basta apenas colocar a intituição a que pertence e aguradar aprovação do moderador. Bons estudos!

domingo, 15 de novembro de 2009

Sete Mitos sobre a Educação

A Educação é tema muito explorado pelos economistas, o interesse pelo assunto vem desde A. Smith e outros autores clássicos. No século XX essa área cresceu bastante, tanto que as diversas contribuições dos economistas são levadas em conta por as outras áreas que dedicam ao assunto, inclusive na pedagogia.

A tradição sobre a pesquisa no assunto está relacionada com a importância do trabalho para a constituição do valor para a sociedade. O fator humano é essencial para a construção de uma sociedade mais pujante, isso se reflete no PIB e em diversos indicadores sociais que os economistas usam para monitorar e promover o progresso cultural e econômico da sociedade. A educação é componente essencial do trabalho, a criação humana se inspira tanto na criatividade quanto no conhecimento. Uma sociedade ou pais se torna mais próspera quando sabe gerar e aproveitar novos conhecimentos produtivos e idílicos e quando consegue incorporá-los com rapidez e facilidade.

Na última segunda-feira, a Folha de S. Paulo enumerou sete itens, chamados de "mitos", sobre o que pode ser feito para melhorar a qualidade da educação. Para o Brasil essa questão é muito importante, pois além de ser um dos gargalos para o melhor desenvolvimento do país, há inúmeros problemas que precisam ser equacionados para se conseguir um melhor patamar de educação, condizente com países que possuem maior sucesso nesse campo.

Em minha dissertação, estudei o que pode ajudar na formação das melhores e mais eficientes escolas (ou seja, aquelas escolas que conseguem ajudar seus alunos de melhor maneira possível, tendo como referência provas de proficiência em matemática e português). Um dos pontos levantados é que escolas com infraestrutura básica são essenciais para o bom ensino, entretanto, aumentar o 'capital' das escolas per si não garante melhor desempenho como afirma a matéria do jornal. Em artigo síntese escrito para Política Econômica Aplicada, mostramos que alguns itens de infraestrutura em demasia, como televisores, video-cassete, salas multimídia, entre outros, atrapalham o desempenho da média dos alunos. A tese é de que muito provavelmente são itens subaproveitados ou desperdiçados. Na contramão dessa evidência, a presença de computadores e laboratórios parece sim contribuir para um desempenho positivo, mesmo quando a presença dos consumidores ocorre apenas para fins administrativos.

Mas nenhuma solução para a educação é de curto prazo, reproduzo aqui então, os mitos apontados pela folha que apontam pesquisas feitas por vários pesquisadores da área de educação (inclusive economistas) que ajudam a entender o tema, mas não exaurem o assunto nem esgotam as possibilidades de solução. Creio que um dos pontos que faltou ser apontado é o aspecto de gerenciamento das escolas públicas que pode ajudar a explicar muito o papel dessas instituições no Brasil.

Eis aqui os 7 Mitos na Educação:

1. Só pagar melhor o professor já melhora o aprendizado. Pesquisas Nacionais e internacionais indicam que não há relação entre salário do professor e o aprendizado dos alunos no curto prazo, já que não há impacto imediato na maneira de como o professor ensina. No entanto, no longo prazo, alguns especialistas em educação afirmam que isso pode tornar a carreira de professor mais atraente, estimulando os melhores alunos do ensino médio a seguirem essa profissão.

2. Melhorar a Infraestrutura da Escola tem impacto positivo no desempenho dos alunos. Na avaliação de alunos da oitava série na Prova Brasil de 2007, de 14 CEU's avaliados, 9 tiveram nota menor que a média da rede municipal de São Paulo. Uma das hipóteses é que, sem ter professores preparados para ensinar melhor, dispor de facilidades como piscina, teatro e recursos tecnológicos não traz avanço no aprendizado dos alunos.[1]

3. A progressão continuada contribui para piorar a qualidade do Ensino. Nesse sistema, o aluno não está sujeito a repetência ao fim de cada série, mas ao fim de cada ciclo. Segundo pesquisa de Naércio Menezes Filho, os alunos das redes com progressão continuada têm desempenho muito parecido ao dos alunos de escolas com regime seriado. "Além disto, a evasão é muito maior no segundo caso (seriado). [2]

4. Cursos de reciclagem para professores ajudam a melhorar o ensino. Estudos feitos no Brasil e no exterior mostram que os professores que fizeram os chamados cursos de formação continuada não passaram a ensinar melhor. Isso porque eles são muito teóricos e influenciam muito pouco na melhoria do ensino em sala de aula. Mozart Neves, presidente do Todos pela Educação e professor da UFPE, ressalta que o mais indicado seria melhorar a formação nas universidades.

5. Gastar mais com educação é suficiente para aumentar o aprendizado dos alunos. De acordo com levantamento feito por Menezes Filho, municípios que gastam R$ 1.000,00 por aluno no ensino fundamental têm a mesma nota na Prova Brasil do que municípios que gastam R$ 3.000,00. O economista Gustavo Ioschpe lembra ainda que, na maioria dos casos, aumentar os gastos com educação significa elevar os salários dos professores, que não é algo que dá resultados.[3]

6. A escola não pode ajudar filhos de famílias desestruturadas. Para aprender, o aluno deve estar bem emocionalmente, mas isso não quer dizer que a escola deve se eximir de seu papel de educar, diz Magdalena Viggiani Jalbut, do Instituto Superior de Educaçao Vera Cruz. Além disso, mesmo no caso de uma família fora do padrão (quando mãe e pai não estão interessados na educação do filho), qualquer outro parente, até um primo, pode estimular a criança a aprender, segundo estudos feitos na França citados por Maria Letícia Nascimento, da faculdade de Educação da USP.[4]

7. Sistemas de Ensino apostilados tolhem a autonomia do professor. Estudos feitos por Paula Louzano, doutora em educação pela universidade de Harvard (EUA), mostram que municípios de São Paulo que usam esses métodos estruturados (como os do COC e do antigo Anglo, com apostilas) tiveram desempenho superior na Prova Brasil, na comparação com as demais redes municipais. Em entrevista com professores que usam o sistema, 84% disseram que o desempenho melhorou e 36% que o material estimula o aprendizado.

Como podem ver é difícil formular políticas de educação para o país e tentar explicar em detalhes o que pode funcionar ou não, mas um aspecto que considero importante é que hoje educação virou um tema que preocupa a todos os brasileiros, que o vêem agora como uma das prioridades educacionais. No Brasil ponto a ponto, onde brasileiros manifestaram espontaneamente suas preocupações para o desenvolvimento do país, educação é posta em primeiro lugar. Essa "corrente pra frente" na educação, aliado ao componente populacional que tende a aliviar a pressão de recursos no ensino fundamental e médio, fará que o Brasil se torne um país mais desenvolvido nesse aspecto ajudando a superar o gargalo educacional.

[1] A matéria tratou esse ponto de maneira bem rápida, não é tão simples como o colocado. Há evidências de que computadores são de fato importantes, não só pela minha pesquisa, mas também por pesquisas feitas pela FGV. O desenho ao lado desse mito é justamente de um computador. Mas como levantei também no texto dessa postagem, grande parte desse investimento em capital das escolas não necessariamente traz altos retornos em educação. Mas no Brasil onde algumas escolas não tem água, carteiras e energia elétrica não chega, é preciso sim de algumas condições mínimas de infraestrutura.

[2] No começo de setembro tive a oportunidade de ler esse artigo do Naércio Menezes, Ligia Vasconcelos, Sergio Werlang e Roberta Biondi. Os autores mostram que além da rede de progressão continuada não prejudicar significativamente no desempenho a evasão desse sistema é significativa e menor. Então, pelo efeito econômico de quem tem ensino médio concluído garantir maior retorno salarial e de renda, a política de progressão continuada oferece um retorno maior e é desejável socialmente. Há um trade-off em questão sobre a progressão e a qualidade, dado que a progressão não prejudica a qualidade é interessante medida. Convém lembrar que o objetivo de uma boa escola não é reprovar maus alunos, mas sim elevar o nível do maior número de possível de alunos e conseguir aliar essa tarefa primeira com a outra tarefa importante de desenvolver e identificar-encaminhar os talentos individuais excepcionais. Dissertação recente da Luciana Luz da UFMG também explora esse ponto com conclusões também interessantes sobre a progressão continuada.

[3] O Brasil não gasta pouco do seu orçamento com educação, os recursos educacionais são vinculados e há ainda os repasses da União através do FUNDEB para garantir um gasto mínimo para escolas públicas com precariedade de recursos. Em porcentagem do PIB, o país gasta cerca de 4,5% do PIB com educação pública básica (fundamental e médio). Oscilando entre 4% a 5%, tal nível de gastos pode ser considerado em patamares de outros países em desenvolvimento e outros mais desenvolvidos. Uma consideração que há muito engessamento de recursos, a compra de material pelas escolas tem de ser prevista com um ano de antecedência e muitas vezes não se destina para a compra de recursos para os quais a escola mais necessita.

[4] Depois de um longo tempo denotando grande importância para condições familiares, chegando ao extremo de dizer que a escola não importava quase nada no desenvolvimento do aluno, a ciência volta a recuperar o valor da escola e a contextualizar a influencia de fatores familiares e sociais, tentado desvendar como eles atuam no papel educacional.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Mais razão para o Apagão

Caros, reproduzo aqui texto do amigo Fernando Ferreira Kelles, do seu blog consciência. Fernando relembra aspectos técnicos que estão sendo pouco lembrados nessa politização que tem ocorrido sobre o blackout ocorrido no último dia 10 de Dezembro.

O APAGÃO
Fernando Ferreira Kelles

No dia 10, por volta das 22h10 do horário brasileiro de verão, houve um desenrolar de eventos que culminou com a falta de fornecimento de energia elétrica para vários estados brasileiros, sobretudo para as duas mais populosas cidades do país, São Paulo e Rio.

Em várias entrevistas e noticiários ouvi muitas explicações, porém notei que as autoridades que tem a responsabilidade de informar à população sobre as verdadeiras causas do ocorrido, pareciam que, sentindo-se pressionados em dar explicações sobre o fato e querendo isentar-se e ao governo de qualquer culpa no assunto, apresentaram justificativas pobres e não convincentes sobre o que sucedera.

Embora seja engenheiro eletricista, envolvi-me sucessivamente em atividades de Telecomunicações, Estatística e Demografia desde que ao sair de uma empresa siderúrgica em 1997 ingressara em uma estatal de telefonia no mesmo ano, distanciando-me da atividade de engenharia elétrica. Naquela empresa onde trabalhei por quase 25 anos, estive responsável, entre outras atividades, pelo fornecimento de energia para uma Usina Siderúrgica em Belo Horizonte. Havia algum tempo que o sistema elétrico do Sudeste Brasileiro já trabalhava com suas redes interligadas. O Comitê Gestor do Sistema Interligado solicitara às concessionárias de energia de suas áreas de atuação que contatassem seus clientes, possuidores das maiores cargas elétricas do sistema, para instalarem em suas subestações [1], relés [2] de alívio de carga. Na eventualidade de haver perder de geração, (como aconteceu naquele dia, com a desconexão das linhas de transmissão que levavam energia de Itaipu para São Paulo) as cargas mais relevantes poderiam ser imediatamente retiradas mantendo a malha remanescente com a geração disponível. O sistema interligado é composto de inúmeras usinas com vários geradores ligados em paralelo, operando em forma sincronizada na freqüência de 60 Hz. Também estão conectadas nessa imensa rede, inúmeras cargas, como cidades, indústrias, estações alimentadoras de trens elétricos e metrôs, etc. Quando uma parcela importante da geração é perdida as demais máquinas geradoras recebem um tranco imediato fazendo com que haja uma perda de rotação dos geradores, da mesma forma como um caminhão que começando a subir uma ladeira perde velocidade. Nesse momento todo o sistema sente que houve um problema na forma de uma rápida redução de freqüência que cai abaixo de 60 Hz (o valor depende da perda ocorrida, pode ser 58Hz, 57Hz ou outro valor). É aí que entram os relés de alívio de carga. Tais instrumentos, ao detectarem essa rápida redução de freqüência, deduzem que houve perda de geração e imediatamente (microssegundos) enviam ordem para que os disjuntores de cargas previamente selecionadas desarmem a fim de impedir que haja uma cascata de eventos e todo o sistema seja derrubado como ocorreu na noite de anteontem.

Na época em que trabalhava com isso, chegamos a ter desligamentos das cargas conectadas ao Esquema Regional de Alívio de Carga, o que isolou os problemas ocorridos. Os relés de então eram analógicos e o sistema era menos robusto que o atual. Com o aumento das interligações, que tornaram o sistema quase nacional, a robustez do mesmo deve ter aumentado, em que pese que os centros de carga ainda são distantes dos centros de geração. O sistema sendo mais robusto, as variações de freqüência, durante as perdas de geração são menores, porém os relés de hoje são seguramente mais sensíveis e podem precisar melhor o que está ocorrendo. O que se passou então? Os técnicos responsáveis pelo sistema ficaram mais incompetentes? Os esquemas de alívio de carga não estão mais “na moda”? O que houve.

O que pode ter havido é que o esquema de alívio de carga não foi implantado na totalidade do sistema de forma e em um nível tal que compensasse a perda de geração de uma usina como Itaipu. É possível que para equilibrar o consumo com uma perda de geração tão relevante, houvesse necessidade de termos um esquema mais sofisticado que detectasse a relevância da perda ocorrida e que nesse caso retirasse da malha interligada partes de cidades que fossem menos afetadas pela falta de energia. Ou seja, a seleção de cargas retiráveis teria que ser muito criteriosa e eficiente, pois tudo isso deve ser feito em frações de segundo. Também é possível que os relés que foram instalados há muito tempo precisem ser substituídos por outros mais sensíveis e avançados.

Quando autoridades vão para os meios de comunicação e começam a dar explicações que não se sustentam fica difícil para os técnicos a eles subordinados apresentarem as verdadeiras causas sem correr o risco de desmentir seus chefes, o que cria outros problemas. Só os próprios chefes podem corrigir suas anteriores explicações, mas aí correm o risco de perder credibilidade.

Penso que há que analisar bem o ocorrido. As soluções para evitar outros problemas desse tipo existem e não são tão caras, mas exigem reavaliar as explicações que foram dadas, sem apressamentos e fora do jogo político, para não fazermos investimentos caros que não contemplam as verdadeiras soluções.