quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A Prize Propose

A indústria automotiva passa por agruros em todo mundo, a GM anuncia quebradeira, a Toyota coorporation anuncia perdas líquidas pela primeira vez em sua história. Demais gigantes acompanham a tendência e este é um dos setores que mais demite seus funcionários na crise atual.

O setor automotivo é um conhecido setor-chave pois movimenta uma dezena de outros setores relacionados, mesmo compreendendo isso, devemos ser insensíveis ao fato das perdas na indústria de carros. O setor pode alegar que a crise não tem nada haver com seu ramo de atuação, já que começou no setor financeiro. Mas se formos analisarmos não é bem por aí.

O tempo do automóvel movido a combustível fóssil já passou. Carros e motocicletas hoje em dia são mais próximos de um bem de consumo banal do que o foram a 50 anos atrás. Mesmo quem não tem carro ou moto os usa indiretamente. As empresas começaram alguns movimentos tímidos por carros que usam biodisel, motores flex e outras misturas combruentes, no entanto, estão marcando passo na busca de oportunidades para se criar o carro livre de emissões.

Sugiro então que os governos ao invés de propor um plano de resgate de mais de 16 milhões para a GM e mais outros tantos milhões para a Chrysler, usem o dinheiro para incentivar positivamente uma mudança na indústria automobilística. Porque não criar um prêmio?!

Não tenho milhões de dólares na manga, mas deixo aí umas diretrizes e sugestões para instituições ou fundações que podem se tornar possíveis financiadoras:

  • Premio de 50 milhões de dólares (corrigidos) para a primeira empresa que conseguir vender, em um ano, mais de 1 milhão de unidades de um modelo de um carro totalmente livre da emissão de CO².
  • Premios individuais aos projetistas.
  • Comissão para avaliar se o carro não possui emissão irregular de CO² (um mínimo tolerável, quanto seria?!). Essa comissão é apenas para certificação, nenhuma empresa chegaria a 1 milhão de vendas do carro ecológico se ele não fosse agradável aos clientes e não respeitasse as emissões (uma fraude de um carro com propósito de Zero CO² sucesso de vendas seria rapidamente captada pelos consumidores e pela imprensa).
Um carro ecologicamente limpo só conseguirá estabelecer se as empresas trabalharem por sua funcionalidade. Existem pequenos prêmios para carros movidos a energia solar e outras formas de energia alternatismas, mas esses carros são conhecidos pela ineficiência, pouca autonomia e pouca funcionalidade já que comportam um ou dois tripulantes. E são prêmios pequenos para peixes pequenos. 50 milhões de dólares acho que são suficientes para a indústria se interessar em catalizar recursos usados hoje para protótipos de salão de automóveis e carros de luxo e mergulhar de cabeça em um carro ecológicamente viável.

Colocar uma meta de vendas é suficiente para aplacar um carro que tenha funcionalidade e caia no gosto dos consumidores. Ainda preza pelos custos, pois se não for barato, dificilmente venderá tantas unidades. Poucos modelos conseguiram superar vendas de 1 milhão em um ano.

Por fim, é tudo questão de tempo, é possível que até 2030 teremos invariavelmente um carro que respeite condições de zero de emissão do CO². Com um premio desses sendo implementado ainda esse ano é possível que o prazo caia para algo antes de 2020 ou 2015.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Custo Oportunidade de uma Piada

Há uma piada de português que eu gostava muito quando era pequeno (nada contra os amigos portugueses). Vou contá-la aqui, pois é ilustrativa:

Joaquim, português, esperava o ônibus-lotação um pouco distante de seu ponto. Quando viu que o seu ônibus ia passando começou a dar sinal, mas o ônibus não parou ...

Joaquim, correu atrás e insistiu:

- Ei, Ei, raios! Volta aqui, preciso pegaire esse autocarros!


O incansável português continuou a perseguir o ônibus:

- Ei, estou ficando cansado, diabos!

Perseguiu tanto que quando se deu conta já estava à porta de casa. Joaquim entrou feliz da vida e foi logo se dirigindo a sua mulher, Maria:

- Maria, tu não sabes o que acaba de me ocorreire!

- Quê, ó Joaquim.

- Corri atrás de um autocarros até chegaire em casa, economizei os R$ 2,10 da passagem!

Com sarcasmo Maria retruca:

- És mesmo um estúpido , Joaquim, se tu correstes atrás de um taxi, economizarias bem mais!

Hahaha. Eu ria como criança dessa piada. Depois de crescido, analisando já como um economista, a lógica usada nesse chiste é econômica e curiosa, ela usa um dos melhores conceitos econômicos: o custo oportunidade.

A brincadeira é que Joaquim economizou R$2,30, mas se fosse inteligente o bastante ele economizaria uns R$ 15, 00 a 30,00 (dependendo da distância) :)

É um pequeno dilema econômico não é verdade?! Se pensarmos desse modo estamos sempre economizando algo. Ao ir à pé pra casa economizamos os 2,30 da passagem, ao pegar um ônibus economizamos pelo menos uns 12,70 da diferença do ônibus e taxi (ou qualquer valor que seja).

Bom, quando menino eu já resolvia esse dilema: ninguém leva a pé e correndo o mesmo tempo que levaria se estivesse dentro de um ônibus. Parte-se então de que a piada fez um pressuposto irrealista, Joaquim conseguiu acompanhar o ônibus desde o ponto até a sua casa. Bom, se fosse assim (se Joaquim fosse tão rápido na corrida), realmente quase nunca compensaria ele pegar o ônibus, pois de graça ele já consegue chegar em casa quase ao mesmo tempo, talvez só bem mais cansado. Pegar o ônibus para ele teria o preço de se evitar a fadiga como diria o Jaiminho, o carteiro do Chaves (aquele da TV, não o da Venezuela).

Quando vamos de ônibus ao invés de ir a pé é porque escolhemos chegar mais rápido em casa, e também a comodidade de ir sentado lendo ou olhando a paisagem (se o ônibus estiver vazio). Se fossêmos de Taxi chegariamos mais rápido ainda com o conforto de sermos só passageiro e motorista no veículo. E com mais conforto, já que o taxi pode te deixar realmente na porta. O preço da diferença Taxi-ônibus vale esse conforto? E quando não há opção? Vale apena pagar um taxi? Taxi é considerado caro pelos consumidores porque explora um pouco nossa condição de consumidores inelásticos quando não podemos escolher ir à pé, de ônibus ou em carro próprio. Bem verdade que são também caros por restrição de oferta por parte das prefeituras e cooperativas de taxistas e também pela falta de hábito, em Brasília todo mundo tem carro e Taxi é um absurdo, em Recife taxi é um dos mais baratos das capitais do país.

Bom, argumentar pelo irrealismo já resolve muita coisa, mas ainda não é o suficiente para o economista: Vamos então eliminar o efeito tempo, suponhamos que Joaquim correndo seja mesmo tão rápido quanto o ônibus. Ainda assim, porque ele não economiza o dinheiro do Taxi?
Se fossemos fazer a conta de quanto vale essa habilidade Forrest Gump de Joaquim, qual seria o preço disso?

Bom, podemos extender o raciocínio custo oportunidade para algo que é pouco ressaltado: O custo oportunidade não vale para todas as maneiras alternativas imagináveis, pois se assim fosse alguns custos de oportunidade seriam contas sem fim onde o indivíduo passaria o tempo inteiro fazendo contas e não chegaria a decisão nenhuma. Podemos ater a um sentido prático do custo oportunidade válido apenas para alternativas factíveis. Bom, poderia ser que Joaquim no dia que estivesse correndo atrás do ônibus só tivesse em seu bolso os R$2,30, portanto, as duas únicas alternativas que lhe eram viáveis era ou ir à pé ou pegar o ônibus, o taxi não era alternativa, pois ele nem tinha essa grana em sua carteira!

Sendo assim, o inteligente dessa história é mesmo o Joaquim, Maria é uma tonta que nem sabe mesmo considerar o custo de oportinidade relevante para seu marido.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Infelizmente (ou não), a força de trabalho é o mais Móbil dos fatores

Durantes as crises surge o ingênuo comentário: "os empresários não demitem porque querem, mas simplesmente porque não há outra saída". É um comentário bem estúpido para responder um outro comentário mais estúpido ainda, o que afirma que "há uma conspiração em jogo, que vilões empresários se apropriam da ajuda a eles fornecida para assegurar o lucro e no intuito de reforçá-lo, "cortam" cabeças e como primeira medida demitem trabalhadores".

Bom, como disseram uns, o tempo da ingenuidade acabou. E ingenuidade, nesse caso, é acreditar que existe uma força poderosa oculta, maniqueísta e subliminar atuando contra o emprego de milhões de trabalhadores*. Não me surpreenderia o desemprego norte-americano beirar a casa dos 10%! Logo nos EUA, país que já possui um histórico de patamar de desemprego bem mais baixo do que em diversos outros países do mundo. Vamos retirar a lógica cruel de um ou outro empresário torturador e analisar condições do sistema que o leva a pôr um monte de gente na rua.

Como explico de maneira didática em sala de aula, uma crise é uma reversão de um ciclo de expansão do sistema monetário, uma fase de redução até que ele se encaixe novamente ao tamanho real da economia. A retração pode ser aguda, como na presente crise, ou mais amena, que é o que todos desejariam, retração chamada de soft landing, temos que admitir ao menos a possibilidade de que talvez o soft landing nem exista. Há sempre uma crise ocorrendo, mesmo que moderada, e nunca se pode dizer que o lado monetário teve uma aterrissagem perfeita. Nas crises é preciso cortar excessos do montante de dinhero não realizável, no entanto, é preciso evitar que o corte monetário ocorra de maneira brutal, pois isso pode deixar sequelas na economia real, que são o desemprego de fatores e da mão de obra.

Para usar uma metáfora, nos climas temperados, o ciclo da vegetação é bem marcado pelo florescimento na primavera, exuberância no verão, queda no outono e a seca das árvores no inverno. Uma crise econômica é como o inverno, sabemos que o inverno é necessário, mas também é importante o outono. O outono é uma preparação. Imaginando que o lado monetário são as folhas e o lado real são as raízes e o tronco, no outono a decaída ocorre folha por folha como uma preparação, em uma crise dessas como a que ocorre hoje, é como se do verão passássemos ao inverno de uma só vez e as folhas caísem todas juntas. Um trauma dessa magnitude prejudica a vida da árvore e pode matar seu tronco e a raíz.

No inverno a árvore guarda energia, consumindo o mínimo indispensável, ainda sim, elas preservam algumas folhinhas que são nescessárias para prosperar e crescer novamente, mesmo que não tenha folhas, o tronco guarda o viço. Em uma queda repentina de todas as folhas a arvore morre. O mesmo para a economia, a queda de todas as "folhas" mata o lado real, surge o desemprego, o desaquecimento da produção, encalhe de estoques e perda de confiança. As "folhas" têm de cair devagar e não se pode matar todas, é preciso um ramo vivo para fotossintetizar a recuperação.

Voltando à questão da força de trabalho. Observamos demissões em massa, bancos tentam desalavancar e retornar ao seu tamanho menor ideal e "seguro", ao fazerem isso colocam muitos ativos no mercado desvalorizando-os, fomentando uma desvalorização ainda maior de preços que faz com que o tamanho de seus passivos, realização de lucros, patrimônio líquido (enfim, seu capital) encolha ainda mais.

Os bancos demitiram muita gente, mas a proporção de demitidos no setor bancário é muito menor do que a desova de capital que eles estão promovendo. Porque no setor produtivo é o contrário? Porque o setor produtivo demite mais, ou invés de reduzir também máquinas e equipamentos?

Keynes disse que é por que os salários nominais são rígidos. Sim, mas não só isso. Eu inverteria um pouquinho o raciocínio de Keynes: "Qual é mais fácil de se dispensar?" A árvore ao dispensar ramos se livra da carga das folhas para que as raízes não tenham de alimentar tantas células e consegue com isso manter-se viva. No lado produtivo o mais fácil de dispensar não são os trabalhadores, mas sim o investimento futuro!

Investimento futuro é o mais móvel dos fatores, pois ele ainda não foi realizado, seu valor presente líquido é completamente flexível, pode render rios de grana para as empresas, mas pode também ser negativo, dizendo às empresas que não compensa investir naquele momento. Não há dúvida, antes dos trabalhadores corta-se o capital empenhado para o futuro. E depois?!

Depois vêm a vez do trabalhadores, mesma lógica, primeiro os trabalhadores do futuro, logicamente não se contrata mais ninguém, e depois vem os trabalhadores empregados hoje. Como?!

O leitor pode achar que estou fazendo pouco de sua inteligência, mas considerando as duas frases impensadas com as quais comecei esse texto, convém lembrar:

As empresas não compram o trabalhador, elas pagam o seu salário mês a mês, é como se estivessem alugando a sua força de trabalho. No entanto, a maioria das empresas "compra" o seu capital. Em períodos de crise é fácil se livrar de um aluguel, mas muito difícil vender algo. Inovações financeiras permitem que se alugue mais o capital (leasing e outras modalidades). Aluguel não mais se refere a apenas o espaço físico da empresa, tudo pode ser alugado. Se o capital fosse também alugado talvez ele fosse desempregado mais facilmente. Como trabalho e capital são complementares isso traria a consequência de uma equidade maior nesse desequilíbrio tão grande entre demitidos e desatrelamento do capital. As fábricas demitem, mas demoram a vender o capital que possuem, quando o fazem é porque já não lhes resta saída.

Com mais inovação financeira para o mundo real (não só aquela dos derivativos que originaram a crise, essa é muito boa também, mas a seu lugar) seria muito mais viável equilibrar essa balança. Poderiamos ter também de contraparte, a compra da força de trabalho. Não me interpretem mal, a escravidão já acabou a muito tempo, mas nos momentos de crise o que os trabalhadores mais gostariam é de estarem comprados por um período de tempo delimitado, superior a duração da crise e que tivessem uma cláusula de recisão que praticamente os impede de serem demitidos. E isso é perfeitamente viável, pode se ver pela situação de free-lancers, que já há pessoas que não trabalham sobre a forma assalariada, vendem contratos que são atrelados ao seu capital humano, as vezes, contratos de 2 anos ou mais. Nos EUA é onde essa forma de trabalho flexível mais funciona, não é a toa que o patamar deles para desemprego é o mais baixo de todos os países. Os EUA são flexíveis o suficientes para recuperar da crise, e nós?!

* Um Exemplo legal disso é o quadrinho "A Mão Invisível" com roteiro de Terry Laban e desenhos de Ilya, lançado aqui no Brasil em 1998. A história de um estudante de Economia que após a morte do pai descobre que o argumento da "Mão Invisível" cunhado por Adam Smith não foi nada menos do que uma conspiração de uma única coorporação capitalista, governada por uns poucos eleitos. Essa organização secreta, denominada "A Mão Invisível", existente desde o sistema de partidas dobradas, promoveu as revoluções capitalistas pelo mundo, ajudou a derrubar o regime soviético e comprou o leste Europeu.