terça-feira, 30 de setembro de 2008

Isto é Inflação?

Aos economistas brasileiros, mesmo os da minha geração, inflação sempre foi um acontecimento que nos chama muito atenção. No mundo todo aliás, mas aqui em nossas paragens o nome INFLAÇÃO ganha aspecto tenebroso por lembrar anos de terror onde o Brasil conseguiu cristalizar o que em qualquer outro paíse seria chamado de hiperinflação, doloroso aumento de preço acima do patamar de 1000% ao ano, mas que porém se resolve rápido, justamente pelos danos que causa.

Me recordo da máxima: "a inflação é um fenômeno essencialmente monetário". Não sei bem, acredito que o Friedman tenha cunhado essa frase, ou alguém embuído em suas idéias. É uma frase acertada, ela tem o termo chave essencialmente. É importante observar a inflação como também um conflito distributivo. O conflito distributivo é responsável pelo estabelecimento de preços relativos, um jogo de empurra-empurra para ver quem acomoda os maiores ganhos de acordo com as condições estruturais da economia (demanda, fatores de custo, poder de monopólio, barganha e etc). Dessa forma o que o produtor de sapatos desejaria mesmo é ver o preço de seu produto aumentado quando todos os outros permanecem parados, ou seja, ele leva maior fatia da produção economia (que pode ocorrer simplesmente porque as pessoas querem mais sapatos no momento). O produtor agrícola desejaria o mesmo para o seu milho, arroz, trigo, etc. Assim como o assalariado o quer para sua força de trabalho.

A inflação que temos atualmente é de natureza diferente das inflações obtidas no passado. Seria a chamada inflação de oferta ou inflação de custos, aquela que ocorre não porque o papel moeda em poder do público está momentaneamente mais altos, aumento de renda momentâneo que estimula a demanda. As pessoas não estão saindo desembestadamente a comprar, mas sim gradualmente comprando mais, o que tem feito a demanda de alimentos e outros produtos gradualmente aumentar. Essa demanda maior aumenta os preços por aumento de renda, que é advindo da maior produtividade, esse aumento de preços ainda que pequeno inicialmente, se acumula como fator de custo, pressionando a oferta.

Gráfico 1. pressões altistas nos pressoas pela Demanda e Oferta Agregada.


Em um esquema simples temos a oferta para cima e esquerda e demanda acima e direita. Dois fatores para aumento de preços. O que se argumenta é que a inflação agora é mais pela oferta que ascende e encolhe para esquerda. Na imprensa muitas explicações para a inflação são fornecidas, como todas as respostas econômicas atuais, a resposta recai sobre a China. Segue o argumento: aumentou o poder de compra do chinês que agora come mais carne ao invés de comer grãos. Para produzir 1kg de carne são necessários 7 kg de grãos o que pressiona o aumento das commodities agrícolas. Outra explicação é o etanol norte-americano consumindo 10% do milho produzido naquele país (que é muito milho, mas pouco suficiente para explicar aumento dos preços nos alimentos). Soma se a isso a já antiga elevação do preço das commodities minerais. Várias outras explicações passam pelos países emergentes.

Voltamos a outra máxima: "não há meios de se combater inflação de custos". O Brasil tem logrado absorver grandes impactos inflacionários com o controle rigoroso da inflação. Desde o plano real, não houve nada que tivesse afetado em um caratér permanente a inflação do país. Com o controle da demanda e estabelecimento da concorrência de preços, a opção do consumidor correr aos produtos mais baratos, a inflação brasileira pode ser dita como estável. Desde a implantação do plano Real a inflação está em torno dos 5% ao ano, não ultrapassando muito disso.
Portanto, o controle de inflações brasileiro de alguma forma tem obtido sucesso, isso sem falar que a área fiscal poderia ter ajustes mais adequados.

Diante da inflação presente tenho me perguntado o quanto do impacto não conseguirá ser absorvido pela política monetária. Absorver toda a inflação não será possível, primeiro porque nenhum país sem controle externos dos preços tem conseguido a façanha de conter a alta e segundo porque o Brasil é hoje exportador, e essa é uma inflação peculiar que se configura em artigos nos quais o Brasil tem importante participação. Soja, milho, carne, minério de ferro, Petróleo, aço, algodão e demais produtos do gênero. Outra pergunta que se segue: "estamos mesmo diante de uma inflação? Ou o que vemos é uma simples mudança de preços relativos?"

A pergunta faz sentido pois não estamos diante do fenômeno essencialmente monetário da máxima já descrita. Os instrumentos de controle do consumo como o juros têm o papel importante para conter a alta, contêm o consumo, mas ele não é aqui o problema principal. A questão de preços relativos se responde olhando os dados. Temos que o preço dos alimentos e os relacionados a demais commodities devem ser principais no aumento da inflação, os demais têm de cair ou ficar estáveis.

E o que os dados dizem?! De imediato, os dados não podem confirmar muito a hipótese de preços relativos. Digamos que eles sinalizam que sim e ao mesmo tempo que não. Segundo dados do IPCA do IBGE, obtidos na base do SIDRA em Abril de 2008, temos a seguinte distribuição entre grupos:

Índice Geral: 0,51

Vestuário: 1.53

Alimentação e
Bebidas: 1.14

Saúde e Cuidados
Pessoais: 0.76

Despesas Pessoais: 0.49
Artigos de Residência: 0.32
Habitação: 0.19
Comunicação: 0.06
Educação: 0.05
Transportes: -0,05

Vemos que vestuário e alimentos ganham em termos relativos aos demais no mês de Abril. Os dados inicialmente podem dizer algo sobre a mudança, mas apenas um mês é muito pouco pouco para dizer sobre uma tendência. É preciso considerar a sazonalidade de grupo de itens como os de vestuário e que alguns outros como habitação, educação, comunicação e transportes sofrem reajustes que ocorrem de uma só vez. Olhando a série de 12 meses não há nada que confirme muito os ganhos relativos. Vemos que os alimentos são os principais ganhadores, seguido da despesas pessoais que têm muito de serviços e lazer. Pode ser uma correção em favor destes dois grupos.

Tabela1. Inflação por grupos de consumo nos últimos 12 meses.

Fonte: SIDRA/IBGE.

Outra consideração é de que, naturalmente, alimentos são um componente de peso na estrutura mensal de gastos familiares (cerca de 30% ou 40% da despesa no mês) e portanto pesam bastante em um índice de inflação. Logo, se o preço dos alimentos sobem invariavelmente temos inflação. Porém, quando contrastados com alguns itens de longo prazo, que são gastos em fração menores por mês mas têm valores consideráveis, vemos que a inflação sobe quase nada por conta destes. O interessante é verificar que os alimentos e commodities, podemos inserir também os combustíveis, que no Brasil ainda não têm sido repassados, ganham posição relativa. Bens de investimento como consumo durável, as comunicações, automóveis e outros itens de investimento não tiveram correções na mesma proporção.

Falta mais análise para dizer se é o fenomeno de preço relativo que explica a alta de preços. Mas tendo que se adota a política montária enxuta, sem espaço para aquecimento de preços, o indicativo parece mostrar que sim. Como atua essa correção de preços relativos? Alimentos são preço-inelásticos, alem do quê, são bens essênciais, a alta deles reprime o consumo de outros produtos mais elásticos, mas isso é bom pois reforça a correção. Produtos elásticos não terão margem para subir, os alimentos só não aumentarão muiro mais de nível se se conseguir produzir mais (os preços altos estimulam a isso). Porém pode ser que os preços dos alimentos se estabeleça em um patamar mais elevado, o que deve ser encarado como resultado bom, resultado de que o mundo afinal se desenvolve e os países mais pobres ganham mais renda e extraem mais renda de sua produção.

Há que se ver o quanto a elevação dos itens básicos é prejudicial à população desfavorecida, no entanto, o que antes se chamaria vantagens nos termos de troca também favorece oportunidades para o ganho produtivo nos emergentes e subdesenvolvidos. Seguridade social auxilia a transmissão dos ganhos e a adoção de modelos de desenvolvimento menos danosos.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Boas Vindas

Olá pessoal,

Sou economista Victor Maia Senna Delgado

Formado em economia pela Unb, Mestre em economia pela UFMG e agora fazendo doutorado em Demografia também na UFMG.

Minha área de pesquisa é primordialmente microeconomia, educação, capital-humano, eficiência econômica e produtividade.

Ainda não tenho produção acadêmica muito relevante.

Segue meu currículo Lattes.

A idéia do blog aqui é estimular minha própria produção, que se enquadra nessa linha que eu chamaria de nova economia maluca. Em essência, mais ou menos na linha desses microeconomistas viajandões tipo S. Levitt, Prichett, Landsburg e alguns outros.

Acho que o pai de todos esses economistas é o Gary Becker.

Acho que quem estuda muito os modelos de Becker, acaba pensando mais ou menos como os colegas acima mencionados. No Brasil, não é ainda uma prática muito comum, mas destaco o prof Rios-Netto.

Um dos principais riscos da microeconomia aplicada é não cair nos modelos estapafúrdios de aplicação por demais cínica e que foge do caráter científico. Modelo não quer dizer necessariamnete cientificismo. Landsburg com "More sex is safer sex" está no limite, digamos que quase ultrapassando a fronteira.

Tenho textos prontos e alguns ainda não arrematados e que requerem mais pesquisa. Mas em breve inicio a postagem com assuntos de interesse da comunidade micro e um pouco de macroeconomia que a demografia está me ajudando muito a desvendar de forma que me seja satisfatória.

Conto com a colaboração dos amigos!

Viva a Economia Marginal