terça-feira, 14 de outubro de 2008

Qualquer semelhança é Mera Coincidência?

Caros leitores, creio que há muita relação deste texto sobre descobretas novas da física e interpretação de teoria também da economia. Em economia também existe o problema da agregação do capital. E as propriedades emergentes de nosso modelos atomisticos.

É um texto legal para se ver aquelo que Lakatos chama de Programas de Pesquisa.

o link é este aqui, segue o texto:

Idéia reemergente
Debate sobre limites do reducionismo na ciência ganha fôlego após estudo sobre simulação de átomos

IDÉIA REEMERGENTE

Folha de S. Paulo 12-10-2008

MARK BUCHANAN
DA "NEW SCIENTIST"

Uma das grandes metas da ciência é explicar cada aspecto da natureza em termos de leis fundamentais simples. Mas será que é possível? Um grupo de físicos alega ter obtido uma evidência de que algumas coisas simplesmente não podem ser computadas, e que a natureza pode ser mais do que a soma de suas partes.

A idéia do reducionismo, uma ferramenta-chave em ciência há séculos, sustenta que tudo na natureza pode ser compreendido eventualmente ao se conhecer suficientemente bem as suas partes. As leis da dinâmica dos fluidos, por exemplo, podem ser derivadas das leis mais profundas sobre movimento de átomos e moléculas, que por sua vez seguem princípios da física quântica.

Em 1971, o físico Philip Anderson mostrou que poderia haver um problema com essa abordagem. Ele sugeriu que alguns sistemas podem ser mais do que a soma de suas partes. Haveria uma "emergência" -a noção de que tipos importantes de organização podem emergir em sistemas com muitas partes interagindo entre si, na qual as leis não derivam das propriedades das partes. Se for assim, mesmo o conhecimento perfeito da física em um nível seria inadequado para compreender a organização em níveis superiores. Desde então, seguiu-se um debate.

Agora, o grupo de Mile Gu, da Universidade de Queensland em Brisbane (Austrália), alega que pode ser possível provar a idéia de Anderson. Eles estudaram um esquema matemático básico chamado modelo de Ising, usado para descrever como o magnetismo surge no ferro e em outros materiais a partir da organização coletiva de seus átomos.

Para ter uma idéia do modelo de Ising, imagine uma grade tridimensional de átomos. Cada átomo age como se fosse um pequeno imã para os outros ao redor. Ele adota uma orientação que depende das forças entre os átomos. Isso reflete o que acontece em materiais do mundo real, no qual átomos adotam padrões diferentes de orientação que dependem das forças atômicas. No ferro, por exemplo, os átomos às vezes apontam em uma direção similar -fazendo o material tornar-se magnético como um todo- enquanto em ligas metálicas o padrão é mais complexo.

Usando o modelo, o grupo se focalizou na questão sobre se o padrão que os átomos adotam sob vários cenários, como o estado mais baixo de energia, pode ser calculado a partir do conhecimento dessas forças. Eles descobriram que, em alguns cenários, o padrão de átomos não podia ser inferido dessa maneira -mesmo dispondo de poder computacional ilimitado. Em jargão matemático, esse sistema é considerado "formalmente indecidível".

"Nós conseguimos encontrar diversas propriedades que eram simplesmente desacopladas das interações fundamentais", diz Gu. Mesmo algumas propriedades realmente simples do modelo, como a fração de átomos orientados em certa direção, não pode ser computada. Uma versão preliminar do estudo está na internet (www. arxiv.org/abs/0809.0151).

O resultado, afirma Gu, mostra que alguns dos modelos usados por cientistas para simular sistemas físicos podem, na verdade, ter propriedades não relacionadas com o comportamento de suas partes. Isso, em contrapartida, ajudaria a explicar por que nossa descrição de natureza opera em tantos níveis, em vez de funcionar a partir de um só. "Uma "teoria de tudo" pode não explicar todos os fenômenos naturais", diz Gu. "A compreensão real pode exigir mais experimentos e mais intuição a cada nível."

Atoleiro filosófico

Alguns físicos acreditam que o trabalho de Gu confere uma carga científica promissora à delicada questão da emergência -que tende a se imobilizar num atoleiro de argumentos filosóficos. John Barrow, da Universidade de Cambridge, considerou o resultado "realmente interessante", mas diz crer que um dos elementos da prova requer mais estudos. Ele ressalta que Gu e seus colegas derivaram seu resultado a partir do estudo de um sistema infinito -em vez de usar um que fosse grande, mas de tamanho finito, como a maioria dos sistemas naturais. "Então, não está totalmente claro o que os resultados deles significam para sistemas finitos reais.

Gu concorda com o argumento, mas afirma que não era esse o objetivo de seu grupo. Ele também argumenta que as leis matemáticas idealizadas, que cientistas usam rotineiramente para descrever o mundo, freqüentemente se referem a sistemas infinitos. "Nossos resultados sugerem que algumas dessas leis provavelmente não podem ser derivadas de princípios simples", afirma.

Jogos, Instituições e Sociedade

Vez ou outra os cientistas sociais reavivam a importância de se analisar as instituições para explicar diferenças entre sociedades. Tal necessidade surge porque é preciso identificar as regras pelas quais uma sociedade se rege. O processo é, portanto, o mesmo que ocorre em outras diversas áreas do conhecimento humano: primeiro a observação permite a identificação de padrões, depois de identificados, os padrões servem para a construção de raciocínios lógicos.

Um dos mais recentes avanços na área de tecnologia administrativa é o desenvolvimento de softwares que auxiliam os humanos na tomada de decisões. Por enquanto, tais softwares auxiliam apenas a tomada de pequenas e relativamente simples decisões, mas esse campo ainda tem muito que evoluir, sua evolução será possível a medida que forem identificadas regras que permitem os computadores tomarem decisões acertadas.

O avanço da inteligência artificial passará pela identificação de padrões humanos de comportamento. Não é tão impossível quanto parece a primeira vista. Alguns softwares desenvolvem a chamada programação heurística para simularem o raciocínio humano. Jogadores de xadrez computadorizados utilizam-se desse princípio. Eles processam as informações em pequenas partes, e as gradativas combinações das informações do jogador adversário permitem o computador criar sua própria estratégia de ação.

Tais computadores não são imbatíveis, a mente humana é também lógica, no entanto, uma característica do raciocínio humano é que existe um limite para sua extensão. Os melhores enxadristas profissionais são aqueles que conseguem visualizar o desdobramento da partida dez ou mais jogadas a frente. Porém, raramente conseguem visualizar o desdobramento de uma partida inteira (depende da força de seu oponente).

Jogos são exemplos interessantes para abstrairmos as regras da sociedade. Todo jogo possui regras a serem seguidas por seus participantes e seguir as regras permite o correto desenvolvimento de uma partida. Uma das mais interessantes analogias que pode-se usar para descrever o funcionamento da sociedade capitalista é a que compara a economia com o futebol. Em comparação com o xadrez existem muito mais elementos: vários participantes, comissão técnica, trio de árbitros, torcida e, principalmente, muita emoção.

Um jogo de futebol é basicamente dois times lutando em busca do gol. Cada time procura maximizar seu saldo de gols. No aspecto individual, cada jogador pretende fazer o melhor para o seu time, conseguir o máximo de gols a favor e o mínimo de gols contra. No fundo a atuação de cada um dos jogadores é a sua satisfação individual, “cada um procurando o melhor para si mesmo”. Tal corolário não nos leva a um individualismo extremo, afinal, em um time cada jogador se complementa, há uma divisão de tarefas.

Pode se pensar que os interesses em relação aos jogadores do outro time são conflitantes, entretanto, isso se estende até certo ponto. Em última instância, o benefício maior é o jogo. Por isso são tão comuns as peladas país afora, amigos se reúnem para disputar uma partida, não importa muito em qual time vão estar. O interesse nesses casos está no benefício da partida e não no ganho de um time.

A característica mais humana dos jogos de futebol se apresenta quando os ânimos se exaltam. Em uma partida é comum surgirem conflitos, por isso são necessários os árbitros. Em partidas amadoras os árbitros são geralmente dispensados; há uma relação de confiança prévia, e que muitas vezes poderá ser confirmada em partidas posteriores. O jogador pouco confiável não será chamado para a próxima partida e essa é a sua principal punição.

Em jogos profissionais é o arbitro que impede que um time saia quebrando o outro para conseguir vencer a partida; afinal, os times se enfrentam poucas vezes em um campeonato e como esse tipo de jogo pode maximizar o resultado, é uma estratégia viável, no entanto, não permitida.

Os árbitros e os bandeirinhas são as autoridades da partida. São eles que garantem o seguimento das regras, são como o judiciário. Estão sujeitos a erros e por isso se levanta a questão de quais recursos tecnológicos os podem auxiliar.

A comissão técnica se compara ao executivo, seu objetivo é, aceitando as regras, conduzir seu time a vitória. Para isso o técnico tem que conhecer as melhores táticas para o desenvolvimento do time, saber qual o melhor momento para aproveitar as características de cada um de seus jogadores, ter sentimento para identificar quando alternar titulares e reservas, dar chance a todos e, por fim, escolher sempre os melhores.

As federações nacionais e internacionais fazem a parte do legislativo, cuidam das regras do jogo satisfazendo os anseios da sociedade futebolística e preservando o futebol como instituição.

Regras são o fundamento básico para desenvolvimento lógico, mas não previsível, de uma partida. Assim deve ser com os cientistas sociais. Devem identificar quais são as regras em sua sociedade e desenvolver argumentos. As sociedades mudam e assim mudam também as regras. Os cientistas devem identificar essas mudanças e mudar suas conclusões a partir delas. O próprio jogo de xadrez mencionado é um jogo bastante teórico, no entanto, quando as peças são simplesmente aleatoriamente colocadas nas duas primeiras e duas últimas fileiras quase todas suas seculares teorias caem por terra. Identificar as instituições e saber quais são as condições que contornam nossas escolhas é tarefa importante a não ser esquecida por alguém que queira estudar a humanidade.

Novo Método de Contabilização do Valor das Páginas de Quadrinhos

Novo Método de Contabilização do Valor das Páginas de Quadrinhos

As últimas páginas de quadrinhos que fiz levaram mais tempo do que eu inicialmente estava imaginando. Enquanto as fazia, desde o lápis até a arte-finalização, fiquei pensando em qual seria meu custo-oportunidade de estar fazendo esse trabalho, que por sinal, no meu caso, é apenas para usufruto próprio e não para venda (claro que quero que as pessoas leiam, mas apenas porque me contento com elas lendo, desperdiçando um pouco de seu tempo com uma idéia que não é delas próprias).

De todo modo, é algo prazeroso fazer as páginas de quadrinhos, mesmo tomando tempo. Antes da TV e de caros programas de entretenimento na cidade é meu passatempo favorito. Enquanto desenho, monto uma pilha de cds que vou ouvindo no meu velho e bom AIWA compact disc stereo. Para fazer a história do Chefe, por exemplo, ouvi 17 dos meus cds.

Como começaríamos, então, a contabilizar o valor de cada uma daquelas quatro páginas? Primeiro, poderíamos começar pelos custos materiais que são os mais óbvios. Quadrinhos, ao lado da literatura, são reconhecidamente uma forma de arte barata, no sentido que o quê importa mais são as idéias no papel. Em termos de custo as HQ’s são muito simples e não há maiores barreiras à entrada nesse aspecto. Ao contrário do que se pode imaginar no caso da música, onde se requer, no mínimo, um instrumento (geralmente caro), ou então no caso do Teatro e no mais custoso de todos: o cinema. Mesmo assim, há alguns custos materiais nos quadrinhos que são:

  • o papel (4 folhas de papel A4 comum do meu caderno): 0,034 (x 4): R$ 0,14

  • o grafite, lápis e tinta nanquim: R$ 0,56

  • esquadros e réguas (esse valor tá um pouco superestimado)1: R$ 0,01

  • pena, pincéis e limpa-tipos (pena é de aço e l

    impa-tipos uma espécie de borracha) R$ 0,68

SUBTOTAL: R$ 1,39

Há ainda mais custos materiais denominados de custos quase-fixos, são condições de infra-estrutura utilizadas enquanto se faz a história: água, luz, aluguel... Contabilizo os custos envolvidos apenas na produção da história, não envolvo aqueles necessários para minha sobrevivência, isso entraria em outro quesito na ocupação do tempo do eventual artista. Como a minha finalidade de trabalho é outra, não quero viver disso, posso usar os custos apenas suficientes para se fazer a HQ. Como se eu fosse o inquilino de mim mesmo, viesse a minha casa apenas para produzir a historieta e fosse embora assim que terminasse.

  • luz (lâmpada 100 Watts/hora do quarto + a de 20W/h da luminária)2: R$ 1,54

  • Água (duas xícaras de água para limpar material): R$ 0,00

  • Aluguel (tempo despendido em casa para elaborar a HQ): R$ 4,23

SUBTOTAL: R$ 5,77

As quatro páginas estão custando até agora R$7,16, mas ainda não entramos na novidade desta contabilização que é uma fórmula inteiramente nova para medir o custo-oportunidade deste trabalho.

Enquanto realizava as páginas do Chefe, pensava em outra ocupação que pudesse dar ao meu tempo (já que estava gastando tempo mais do que o estimado para concluir a HQ). Poderia ser até outra atividade de lazer, por exemplo. Todo o tempo que temos dispõe de um valor, esse valor é o quanto nós poderíamos estar ganhando exercendo uma atividade remunerada, empregando nossa capacidade em força de trabalho. Quando uma pessoa vai ao cinema, por exemplo, o custo de oportunidade dela estar ali naquela sala é exatamente o preço do ingresso, ou seja, ela está abdicando de seu dinheiro por um lazer dado em pouco mais de uma hora. Funciona também dessa forma para as demais coisas.


Ocorre que o custo de oportunidade é algo subjetivo e varia de pessoa para pessoa, nem todos acham que compensa perder o seu tempo indo ao cinema ver determinado filme. O custo de um economista premio Nobel é com certeza maior do que o meu, o caso do Stiglitz, por exemplo. Uma história em quadrinhos feita pelo Stiglitz deveria custar bem mais caro do que uma feita por minha pessoa, pois em 16 horas, o Stiglitz poderia ganhar umas 1000 vezes mais dinheiro do que eu. Por ser subjetivo, calcular o custo de oportunidade não é uma coisa muito óbvia.

No entanto eu percebi que havia algo paralelo à confecção dos quadrinhos que me ajudaria a medir esse custo: o fato deu desenhar e ouvir música ao mesmo tempo. Os cds que eu compro possuem preço, mesmo as músicas baixadas na internet, ou os álbuns que ganho de presente possuem um preço no mercado. O mp3 de uma música está custando nos meios eletrônicos cerca de R$0,99 até R$2,99. Ao ganhar um cd de presente o valor para você é exatamente o custo que a pessoa que o presenteou pagou. Presentear é algo legal, a pessoa que lhe compra algo estima que aquele valor seja exatamente a utilidade que ela lhe possa dar e, além disso, ela adquire um plus de utilidade ao acreditar dar-lhe algo útil. Enfim, os cds que tenho possuem o valor de quando eu os comprei ou ganhei.

Mas não é simplesmente colocar o valor dos 17 cds que ouvi, isso seria exorbitante e nada real. Existe, na verdade, uma depreciação dos cds, uma utilidade marginal decrescente. Vou supor aqui que a primeira vez que ouço um disco é aquela em que mais se aproxima de seu valor de compra, a medida que vou escutando várias vezes, cada nova audição possui um valor menor.3 O lance dos cds é que eles possuem prazo de validade indeterminado, se você cuida bem deles, eles podem durar até a sua morte, portanto, em teoria, o valor de um cd que você consumidor compra tende a um valor que é assintóticamente zero.

Então, quanto mais antigo é um cd seu, mais chance de menos valer em sua estima atual. O valor inicial também influi no quanto o cd está valendo hoje. O gráfico abaixo ajuda a entender como funciona esse esquema de depreciação.

Figura.1. Gráficos de Depreciação.


A minha função de depreciação dos cds é a seguinte:



O valor inicial é quanto o compact disc custou na loja, o tempo será medido em anos. O parâmetro φ é um parâmetro de gosto, que será tanto maior quanto menos eu gostar do cd. Na maioria dos casos usarei φ = 1. Nessa situação hipotética, um cd que tenha custado R$10,00 inicialmente estará valendo 1 Real daqui a nove anos. Em 19 anos valerá 0,50 centavos e em 99 anos valerá 0,10 centavos, isso se eu estiver vivo, pois, senão, valerá zero.


O custo de oportunidade se baseia no fato de que quando comprei o cd esperava ouvi-lo várias vezes e de que, cada vez que paro para escutar um dos meus cds, eu estou gastando um “pedaço” de seu valor inicial de compra, essa parcela é o custo de oportunidade de ouvir o cd sem estar fazendo nada mais, apenas parado ouvindo. É claro que música é uma coisa que nos possibilita de ouvir exercendo outras atividades, desenhando, caminhando na rua, dirigindo, lavando o carro a casa ou a louça etc. De certa forma, quando você compra um cd, avalia também esses usos combinados que poderá fazer, mas estou abstraindo disso, o valor de cada audição nesses casos seria um pouco menor, já que sua utilidade está vindo de uma combinação e não de estar parado só escutando música. O valor do custo de oportunidade que uso aqui é aquele de estar apenas a ouvir o cd, o que não é verdade já que eu estava também desenhando, mas acredito ser uma ótima aproximação.


  • custo-oportunidade (obtido através da técnica indireta de ouvir os cds)4: R$ 73,96


Assim, o original do quadrinho “O poderoso Chefão” que está postado logo abaixo e todos os demais que fiz com 4 páginas deveriam custar: R$81,12. É claro que ninguém vai pagar isso tudo por essa porcaria, mesmo sendo o original. Vamos supor que eu queira vender e distribuir apenas tirando uma xerox bem barata de 0,06 centavos por página que há no centro de BH.


Se eu conseguisse vender 100 cópias da história, teria de amortizar 81,12 + (4x100x0,06) = 105,12 reais.


Cada historinha com as 4 páginas sairia por: 105,12/100 = R$1,05


Se eu conseguisse distribuir 200: R$ 0,64


E se caso eu conseguisse entupir a cidade com essa história ridícula, vendendo 500 cópias cada qual com 4 páginas sairia por: R$ 0,40.


É assim que se faz a conta. Tá afim de levar um fanzine de 0,40 centavos pra casa?!


1 O desenhista profissional não-muquirana (caso raro) poderia cobrar R$0,00 por esse material.

2 Há também o consumo do stereo, cerca de 20W/h. O tempo de trabalho foi cerca de 3 horas por dia em uma semana. O método de computação do tempo está ligado ao cálculo de custo-oportunidade que farei logo a seguir.

3 Os aficionados em música podem ter uma utilidade marginal crescente ao ouvir um disco, pois em um mesmo cd podem descobrir sonoridades diferentes de sua banda favorita, o que os deixa cada vez mais ‘pirados’. Mas mesmo nesses casos (que para algumas bandas vem a ser o meu caso), em algum momento a utilidade marginal será decrescente, nada é tão bom para sempre, pode ter um valor eterno, mas não um máximo crescente e contínuo.

4 Os cálculos em detalhes estão no arquivo em .txt.

Adendo ao Método de Contabilização do Valor das Páginas...

Adendo ao método de contabilização do Valor das Páginas...


Durante a elaboração do método de contabilização algumas questões ainda me intrigavam. Aquela do Stiglitz, por exemplo, se o renomado economista decidisse fazer uma história em quadrinhos de quatro páginas e empregasse, para isso, os mesmos materiais baratos que eu utilizei que por sinal não acredito que variem muito de preço entre nações.1 Um bom fator que mudaria e revelaria o custo de oportunidade do Stiglitz é que ele muito provavelmente mora em uma caríssima propriedade em NY. Mas supondo que ele fosse Brasileiro e morasse aqui em Belo Horizonte, por conta de aluguel ele não pagaria muito mais do que eu, embora existam propriedades bem caras aqui em BH. Mas o preço pago em aluguel está diluído entre as horas trabalhadas no quadrinho (não aumentaria mais do que 30% o custo).


E fazendo a suposição final de que o Stiglitz gaste o mesmo tempo e ouça os mesmos cds que eu escutei, podendo até não ser os mesmos, pois dificilmente um cd variará muito de sua faixa de valores (mesmo não sendo os mesmos), chegamos à ridícula conclusão final de que uma história feita pelo Stiglitz custaria o mesmo tanto que a minha!


Claramente isso não está certo, em grande parte pelas suposições irrealistas do Stigliz morar em BH e pagar os mesmos custos que eu, mas mesmo se considerássemos isso,2 alguma coisa ainda não estaria muito bem. Como eu disse antes, o custo de oportunidade dele é bem mais alto do que eu meu, só pelo fato dele conseguir fazer bem mais dinheiro em 16 horas.


O que acontece?


O lance é que se você quer realmente medir o custo de oportunidade, deve considerar o valor que uma pessoa está disposto a pagar por cada cd, e não o valor que foi pago. Muitas vezes achamos um produto que de fato está mais barato do que esperávamos, diz-se que nesses casos o consumidor adquire um excedente, que é a diferença entre aquilo que estava disposto a oferecer e o preço efetivo na prateleira. A partir dessa consideração, podemos intuir que uma pessoa mais rica está disposta a pagar mais por cada um dos cds que compra sendo assim, ao calcularmos o valor predisposto estaríamos medindo mais corretamente o custo-oportunidade de cada um. No entanto, essa medida deixaria o modelo de cálculo dos valores um pouco mais subjetivo, já que nem mesmo a própria pessoa pode calcular muito bem o quanto estaria disposto a pagar por cada cd que comprou. No meu caso, o preço original do que eu compro é bem próximo do valor que estou disposto a pagar, para um economista rico e renomado deve ser algo maior, mas, talvez, nem sempre. Há que se considerar à elasticidade renda desse tipo de consumo. Junto com outros fatores de custo isso pode explicar melhor a diferença.3


Bom, mesmo considerando esse custo de oportunidade no valor predisposto a pagar, podemos tentar cogitar o valor do talento. O Stiglitz pode ser, por ventura, um péssimo desenhista e gastar suas 16 horas de desenho fazendo uma historinha com bonecos de palitinhos (não que isso seja necessariamente ruim, vide, por exemplo, o site XCDC, ou o Cynical Man de Matt Feazell). Bom, de todo modo, pode ser um desenhista com fraca técnica e pouca inventividade quadrinística, suas horas podem valer em termo de custo oportunidade mais de U$ 1.000,00, mas esse valor estaria longe da técnica e esforço narrativos empregados. Como então o talento é incorporado nessa contabilização do valor das páginas?


Após matutar um pouco concluí por duas respostas: a primeira seria o capital-humano inserido na arte de fazer HQ’s. Se o Stiglitz investiu algum tempo da sua vida se dedicando ao desenho, isso de alguma forma repercute na sua habilidade e talento em fazer quadrinhos. Mas não é tudo, ele pode ter sido um aluno esforçado nesse quesito, mas ainda assim fracassar em fazer as Histórias. A segunda resposta é mais forte: Vantagens Comparativas. Enfim, julgamento sobre arte é algo subjetivo, até mesmo para os consumidores (o que todo mundo compra não é necessariamente o que é bom em arte). Mas se o Stiglitz põe no mercado uma história em quadrinhos de bonecos de palitinhos ao seu custo de oportunidade, digamos, de mil dólares por quatro páginas, o valor de seu talento terá que ser confirmado por quem o compra. Se o desenho for fraco e a história ruim ninguém vai comprar e o custo das 16 horas de prancheta do Stiglitz não será pago, ele estaria melhor se dedicando a economia que é a área onde conseguiria ter o seu custo-oportunidade devidamente recompensado.


É, então, por uma questão de vantagem comparativa que não me torno quadrinista, embora longe de ser um bom economista, minha vantagem comparativa ainda está ligeiramente pendendo para o lado dos números, equações, regressões, análises conjunturais e leitura de textos. E creio que minha falta de talento seria confirmada no lançamento de uma edição nas livrarias, provavelmente minha edição andaria as moscas, como este meu blog. Por falar nisso, instalei um contador para denunciar meu fracasso.


1 Já que são bens tradables de simples manufatura, a tinta nanquim, o lápis, a pena, folha e demais materiais não devem variar muito de preço, mesmo sendo nos EUA o custo de vida bem mais elevado. O preço seria mais alto na proporção do custo de vida. O que de fato ocorre é que esses bens muito simples como lápis e tinta nanquim, por exemplo, são muitas vezes produzidos em seu país de origem, ocorreria que o Stiglitz compraria Nanquim made in USA, enquanto eu compro made in Brazil mesmo. A sacanagem é que no Brasil quando se importa esse tipo de material o que pesa não é o transporte e sim as tarifas que equivalem, em alguns casos, a mais de 100% do valor do produto. É em parte por isso que comprar o lápis Carandache é tão caro, noutra parte é por uma questão de marca também, mas não me estendo nisso aqui...

2 Que no caso do aluguel já explicaria bastante como o custo oportunidade dele é bem maior que o meu.

3 O fator de peso será mesmo o quanto ele poderia ganhar em outra situação, que ficará mais claro adiante no texto.

Ou Isto ou Aquilo

Ou guardo o dinheiro

e não compro o doce.

Ou compro o doce e gasto
o dinheiro.”

“Ou isto ou aquilo:
ou isto ou aquilo...

e vivo escolhendo o dia
inteiro!”

Por vezes admiro como a epígrafe acima não foi escrita por uma economista. Pelo contrário, os versos provêm da poetisa Cecília Meireles. Trata-sede um trecho do conhecido poema infantil “Ou Isto ou Aquilo” retratando o que desde criança percebemos, que a vida é uma infinidade de processos. A todo o momento nos deparamos com uma escolha e o que não deixamos de fazer é decidir.

Lendo todo o poema, percebemos que apenas a estrofe acima aborda as escolhas materiais, todas as outras pertencem ao não-material do mundo. Faz sentido ser dessa forma, o mundo não econômico é bem maior; no contexto do poema, a economia se resumiria a apenas dois versinhos. No entanto, enganam-se aqueles que acham que a parte de fora, presente no poema e na realidade, nada tem a ver com o mundo econômico.

Os processos de escolha com que nos deparamos pela vida vão desde os mais simples como decidir a que horas acordar, o que fazer pela manhã, até escolhas mais complexas como a escolha de uma profissão ou a decisão de se casar e ter filhos (geralmente estas três últimas são decisões mais complexas porque envolvem longos períodos de tempo à frente). Dessa forma, encarando a economia de uma forma mais ampla, como um dos procedimentos relevantes para a escolha dos indivíduos, podemos enfim entender um pouco como aspectos não-materiais da vida corriqueira também permeiam o mundo econômico.

Uma grande parte dos profissionais em economia ainda vê estas considerações acerca da vida cotidiana como extensões bizarras da ciência econômica, muito embora, elas não sejam essa excrescência que aparentam ser em um primeiro relance. Podemos remontar até aos economistas clássicos como Smith, Mill e Marshall, os quais possuíam extrema sensibilidade para tratar da economia política, sempre atentos às influências externas e considerações de ordem psicológica, para ver que a posição de defesa de muitos não é justificável. É lógico que a economia não pode reivindicar direito exclusivo sobre a análise criteriosa do processo de escolha, porém, não pode deixar suas nuances não-monetárias de lado. Separar conjuntos determinantes é sempre importante, mesmo, sabendo disso, os economistas acima nunca relevaram a importância dos fatores externos à teoria.

A coisa toda de decisão econômica racional sobre casamentos, escolha profissional e número de filhos que uma família decide ter foi posta explicitamente por Gary Becker, sobre estes assuntos seus trabalhos acadêmicos de referência são Becker (1964,1974 e1990). Mais acessível ao leitor comum é a sua leitura no prêmio Nobel de 1992.1 Os resultados de Becker são simples e elegantes, são impressionantes as conclusões e interpretações dos dados que podemos realizar com as ferramentas fornecidas por este autor. Basicamente, os trabalhos que Becker fez procuram mostrar que as escolhas que as pessoas fazem durante sua vida são racionais; no sentido estrito ao qual os economistas se referem à racionalidade: maximizar fluxos temporários dadas determinadas funções sintetizadoras do comportamento.

Ocorre, então, nos modelos à la Becker um conhecido defeito: apesar de algumas complexas soluções analíticas a que ele pode nos levar, suas suposições são por demais simplistas e talvez por demais estreitas. Isto se torna explicito ao nos fazermos a pergunta: “Quem de nós conhece todos os acontecimentos e nuances do seu horizonte temporal de decisão, ou seja, o futuro de nossa vida?”. Bem, “ninguém!”. Apenas esta já é uma constatação bastante desconfortável, a ponto de nos permitir desacreditar na racionalidade que compõem nossas decisões.

Entramos, então, a partir de agora na seara de Herbert Simon, outro grande economista. Simon estava preocupado com as conhecidas, porém veladas, restrições à racionalidade perfeita. Muitos destacam, ainda hoje, que o tema da chamada racionalidade limitada é considerado tabu para os economistas. O que seria este conceito? E porque é um tabu?

Simplificadamente falando racionalidade limitada é quando consideramos que os agentes estão longe de serem oniscientes. Simon (1978) enumera um conjunto de possibilidades onde há sérios limites à capacidade computacional das pessoas. A proposta de Simon é então o estudo observacional do comportamento micro das pessoas e grupos, onde poderíamos inferir uma rotina que as pessoas ou firmas usam para satisfazer seus objetivos propostos. Uma das principais conclusões de Simon é de que indivíduos e firmas procuram antes se satisfazer ao invés de maximizar. A satisfação é uma medida subjetiva. A teoria microeconômica tradicional a evita afirmando que os agentes trabalham antes de seu ponto de saciedade. Quando se incorpora satisfação é essencial fazermos as perguntas: “O que seria satisfação?”. “Como medi-la?”. “Ela muda entre pessoas e firmas?” “Como?”. “Porque?”.

O tema ainda é tabu porque tratar das situações diferentes mencionadas acima dá margem à inclusão de diversas racionalidades ou rotinas e então é preciso cuidado para estas não se tornarem contribuições ad hoc à teoria econômica. Embora caiba uma boa dose de bom senso, o adhociscmo é comportamento a ser evitado por conta de suas explicações para tudo e para todos.

Considerando o alerta de Simon, tratamos, em economia, de apenas uma casquinha do que formam nossas decisões cotidianas. Para algumas situações o processo de escolha desenvolvido pela análise econômica formal é suficiente. Por exemplo, quando vamos a feira é fácil maximizar: temos o dinheiro disponível para a feira da semana, os preços dos produtos e a cesta de pratos escolhida para cozinhar durante a semana, maximizar aqui é simples. Muito embora, caibam ainda uma série de considerações, quanto mais experiência em feira nós temos, maior será nossa capacidade de discernir a qualidade e o período sazonal em que devemos fazer certos pratos.

Para uma infinidade de outras situações maximizar se torna tarefa difícil. Ainda mais quando levamos em consideração um campo que os economistas não se dispõem a entender: o campo dos sentimentos. Como tudo tem limite, esse seja, talvez, o maior limite para a continuação do desenvolvimento econômico que foi esboçado neste texto. Entretanto, não entender o todo não significa não contribuir em parte, nessa fronteira do conhecimento podemos destacar os insights dados por Kahneman nos estudos sobre a influência dos aspectos cognitivos psicológicos que influenciam a tomada de decisão.

Diversos outros campos novos exploram os limites da ciência econômica, ocorrendo intensa interdisciplinaridade: Política e Sociologia se unem à economia para análise institucional; Biologia e Física à analise da economia evolucionista, buscando explicar o porquê das aglomerações no espaço; a Programação Computacional e a Estatística (velha aliada) explorando novos e sofisticadas formas de mensuração e testes. Como sempre, a proximidade que temos com o evento, essa efervescente interdisciplinaridade, não nos permitirá concluir o que daí sobrevive, porém, podemos confiar que haverá certamente bons frutos.

A economia, portanto, está na nossa vida não apenas no preço da gasolina que sobe, no déficit orçamentário do governo, na previdência ou efeito dólar/importações. Ela está presente a todo o momento no aspecto micro, desde de que, quando crianças, começamos rudimentarmente a pensar. Como bem nos ensinou Cecília Meireles.


Referências:

Becker, G. 1992. “The Economic Way of Looking at Life”. Nobel
Lecture, December 9, 1992.
http://nobelprize.org/economics/laureates/1992/becker-lecture.html

Becker, G. 1974. “A Theory of Social Interactions”. Journal
of Political Economy
, vol. 82. pp. 1063-1093.

Becker, G. 1970 [1964]. “Human Capital: A theoretical and Empirical
Analysis with special reference to Education”. National Bureau
of Economic Research. New York.

Becker, G, Murphy, K. e Tamura, R. 1990. “Human Capital, Fertility and Economic Growth” Journal of Political Economy, vol 98, pp. S12-17.

Kahnemann, D. e Tversky, A. 1979. “Prospect Theory: an analysis of decision under risk”, Econometrica vol. 47 pp. 263-291.

Kung. Vetenstapienakadamien, The Royal Swedish Academy of Sciences.
2002. “Advanced Information on The Prize in Economics Sciences
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http://nobelprize.org/economics/laureates/2002/press.html

McCloskey.D.
2002. “The Secret Sins of Economics”. Prickly Paradigm Press
. Chicago.

Simon, H. 1978. “Rational Decision-Making in Business Organizations”. Nobel Memorial Lecture, 8 December 1978. http://nobelprize.org/economics/laureates/1978/simon-lecture.html

Simon,
H.
1959. “Theories of Decision-Making in Economics and Behavioral Science”. American Economic Review, vol. XLIX June, no. 3 pp.253-283

1
Becker (1992). “The Economic Way of Looking at Life”.
http://nobelprize.org/economics/laureates/1992/becker-lecture.html

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Isto é Inflação?

Aos economistas brasileiros, mesmo os da minha geração, inflação sempre foi um acontecimento que nos chama muito atenção. No mundo todo aliás, mas aqui em nossas paragens o nome INFLAÇÃO ganha aspecto tenebroso por lembrar anos de terror onde o Brasil conseguiu cristalizar o que em qualquer outro paíse seria chamado de hiperinflação, doloroso aumento de preço acima do patamar de 1000% ao ano, mas que porém se resolve rápido, justamente pelos danos que causa.

Me recordo da máxima: "a inflação é um fenômeno essencialmente monetário". Não sei bem, acredito que o Friedman tenha cunhado essa frase, ou alguém embuído em suas idéias. É uma frase acertada, ela tem o termo chave essencialmente. É importante observar a inflação como também um conflito distributivo. O conflito distributivo é responsável pelo estabelecimento de preços relativos, um jogo de empurra-empurra para ver quem acomoda os maiores ganhos de acordo com as condições estruturais da economia (demanda, fatores de custo, poder de monopólio, barganha e etc). Dessa forma o que o produtor de sapatos desejaria mesmo é ver o preço de seu produto aumentado quando todos os outros permanecem parados, ou seja, ele leva maior fatia da produção economia (que pode ocorrer simplesmente porque as pessoas querem mais sapatos no momento). O produtor agrícola desejaria o mesmo para o seu milho, arroz, trigo, etc. Assim como o assalariado o quer para sua força de trabalho.

A inflação que temos atualmente é de natureza diferente das inflações obtidas no passado. Seria a chamada inflação de oferta ou inflação de custos, aquela que ocorre não porque o papel moeda em poder do público está momentaneamente mais altos, aumento de renda momentâneo que estimula a demanda. As pessoas não estão saindo desembestadamente a comprar, mas sim gradualmente comprando mais, o que tem feito a demanda de alimentos e outros produtos gradualmente aumentar. Essa demanda maior aumenta os preços por aumento de renda, que é advindo da maior produtividade, esse aumento de preços ainda que pequeno inicialmente, se acumula como fator de custo, pressionando a oferta.

Gráfico 1. pressões altistas nos pressoas pela Demanda e Oferta Agregada.


Em um esquema simples temos a oferta para cima e esquerda e demanda acima e direita. Dois fatores para aumento de preços. O que se argumenta é que a inflação agora é mais pela oferta que ascende e encolhe para esquerda. Na imprensa muitas explicações para a inflação são fornecidas, como todas as respostas econômicas atuais, a resposta recai sobre a China. Segue o argumento: aumentou o poder de compra do chinês que agora come mais carne ao invés de comer grãos. Para produzir 1kg de carne são necessários 7 kg de grãos o que pressiona o aumento das commodities agrícolas. Outra explicação é o etanol norte-americano consumindo 10% do milho produzido naquele país (que é muito milho, mas pouco suficiente para explicar aumento dos preços nos alimentos). Soma se a isso a já antiga elevação do preço das commodities minerais. Várias outras explicações passam pelos países emergentes.

Voltamos a outra máxima: "não há meios de se combater inflação de custos". O Brasil tem logrado absorver grandes impactos inflacionários com o controle rigoroso da inflação. Desde o plano real, não houve nada que tivesse afetado em um caratér permanente a inflação do país. Com o controle da demanda e estabelecimento da concorrência de preços, a opção do consumidor correr aos produtos mais baratos, a inflação brasileira pode ser dita como estável. Desde a implantação do plano Real a inflação está em torno dos 5% ao ano, não ultrapassando muito disso.
Portanto, o controle de inflações brasileiro de alguma forma tem obtido sucesso, isso sem falar que a área fiscal poderia ter ajustes mais adequados.

Diante da inflação presente tenho me perguntado o quanto do impacto não conseguirá ser absorvido pela política monetária. Absorver toda a inflação não será possível, primeiro porque nenhum país sem controle externos dos preços tem conseguido a façanha de conter a alta e segundo porque o Brasil é hoje exportador, e essa é uma inflação peculiar que se configura em artigos nos quais o Brasil tem importante participação. Soja, milho, carne, minério de ferro, Petróleo, aço, algodão e demais produtos do gênero. Outra pergunta que se segue: "estamos mesmo diante de uma inflação? Ou o que vemos é uma simples mudança de preços relativos?"

A pergunta faz sentido pois não estamos diante do fenômeno essencialmente monetário da máxima já descrita. Os instrumentos de controle do consumo como o juros têm o papel importante para conter a alta, contêm o consumo, mas ele não é aqui o problema principal. A questão de preços relativos se responde olhando os dados. Temos que o preço dos alimentos e os relacionados a demais commodities devem ser principais no aumento da inflação, os demais têm de cair ou ficar estáveis.

E o que os dados dizem?! De imediato, os dados não podem confirmar muito a hipótese de preços relativos. Digamos que eles sinalizam que sim e ao mesmo tempo que não. Segundo dados do IPCA do IBGE, obtidos na base do SIDRA em Abril de 2008, temos a seguinte distribuição entre grupos:

Índice Geral: 0,51

Vestuário: 1.53

Alimentação e
Bebidas: 1.14

Saúde e Cuidados
Pessoais: 0.76

Despesas Pessoais: 0.49
Artigos de Residência: 0.32
Habitação: 0.19
Comunicação: 0.06
Educação: 0.05
Transportes: -0,05

Vemos que vestuário e alimentos ganham em termos relativos aos demais no mês de Abril. Os dados inicialmente podem dizer algo sobre a mudança, mas apenas um mês é muito pouco pouco para dizer sobre uma tendência. É preciso considerar a sazonalidade de grupo de itens como os de vestuário e que alguns outros como habitação, educação, comunicação e transportes sofrem reajustes que ocorrem de uma só vez. Olhando a série de 12 meses não há nada que confirme muito os ganhos relativos. Vemos que os alimentos são os principais ganhadores, seguido da despesas pessoais que têm muito de serviços e lazer. Pode ser uma correção em favor destes dois grupos.

Tabela1. Inflação por grupos de consumo nos últimos 12 meses.

Fonte: SIDRA/IBGE.

Outra consideração é de que, naturalmente, alimentos são um componente de peso na estrutura mensal de gastos familiares (cerca de 30% ou 40% da despesa no mês) e portanto pesam bastante em um índice de inflação. Logo, se o preço dos alimentos sobem invariavelmente temos inflação. Porém, quando contrastados com alguns itens de longo prazo, que são gastos em fração menores por mês mas têm valores consideráveis, vemos que a inflação sobe quase nada por conta destes. O interessante é verificar que os alimentos e commodities, podemos inserir também os combustíveis, que no Brasil ainda não têm sido repassados, ganham posição relativa. Bens de investimento como consumo durável, as comunicações, automóveis e outros itens de investimento não tiveram correções na mesma proporção.

Falta mais análise para dizer se é o fenomeno de preço relativo que explica a alta de preços. Mas tendo que se adota a política montária enxuta, sem espaço para aquecimento de preços, o indicativo parece mostrar que sim. Como atua essa correção de preços relativos? Alimentos são preço-inelásticos, alem do quê, são bens essênciais, a alta deles reprime o consumo de outros produtos mais elásticos, mas isso é bom pois reforça a correção. Produtos elásticos não terão margem para subir, os alimentos só não aumentarão muiro mais de nível se se conseguir produzir mais (os preços altos estimulam a isso). Porém pode ser que os preços dos alimentos se estabeleça em um patamar mais elevado, o que deve ser encarado como resultado bom, resultado de que o mundo afinal se desenvolve e os países mais pobres ganham mais renda e extraem mais renda de sua produção.

Há que se ver o quanto a elevação dos itens básicos é prejudicial à população desfavorecida, no entanto, o que antes se chamaria vantagens nos termos de troca também favorece oportunidades para o ganho produtivo nos emergentes e subdesenvolvidos. Seguridade social auxilia a transmissão dos ganhos e a adoção de modelos de desenvolvimento menos danosos.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Boas Vindas

Olá pessoal,

Sou economista Victor Maia Senna Delgado

Formado em economia pela Unb, Mestre em economia pela UFMG e agora fazendo doutorado em Demografia também na UFMG.

Minha área de pesquisa é primordialmente microeconomia, educação, capital-humano, eficiência econômica e produtividade.

Ainda não tenho produção acadêmica muito relevante.

Segue meu currículo Lattes.

A idéia do blog aqui é estimular minha própria produção, que se enquadra nessa linha que eu chamaria de nova economia maluca. Em essência, mais ou menos na linha desses microeconomistas viajandões tipo S. Levitt, Prichett, Landsburg e alguns outros.

Acho que o pai de todos esses economistas é o Gary Becker.

Acho que quem estuda muito os modelos de Becker, acaba pensando mais ou menos como os colegas acima mencionados. No Brasil, não é ainda uma prática muito comum, mas destaco o prof Rios-Netto.

Um dos principais riscos da microeconomia aplicada é não cair nos modelos estapafúrdios de aplicação por demais cínica e que foge do caráter científico. Modelo não quer dizer necessariamnete cientificismo. Landsburg com "More sex is safer sex" está no limite, digamos que quase ultrapassando a fronteira.

Tenho textos prontos e alguns ainda não arrematados e que requerem mais pesquisa. Mas em breve inicio a postagem com assuntos de interesse da comunidade micro e um pouco de macroeconomia que a demografia está me ajudando muito a desvendar de forma que me seja satisfatória.

Conto com a colaboração dos amigos!

Viva a Economia Marginal